Quando a 4 de julho de 1994 foi descoberto na localidade do Bairro, concelho de Ourém, o maior trilho de pegadas de dinossauros herbívoros do mundo, a população anteviu desenvolvimento que os turistas se encarregariam de trazer.

Vinte anos depois, contudo, a vida na localidade, que dista dez quilómetros de Fátima, não parece muito diferente, com exceção do tráfego automóvel em direção à jazida, no passado uma pedreira, cujos efeitos da exploração ainda é recordada.

“O Bairro manteve-se igual, mas vêm mais carros”, diz José Oliveira, de 59 anos, proprietário de um café, que constata não ter registado mudanças no negócio, mas antes no ambiente, agora sem poeira e sem o vaivém constante de camiões carregados de pedra.

Maria Júlia, de 69 anos, corrobora. “O movimento de pessoas que passa é maior, mesmo estrangeiros”, afirma, criticando a pouca sinalização indicativa das pegadas que dinossauros saurópodes deixaram impressas numa laje há 175 milhões de anos.

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“Vemos passar os turistas”, sintetiza a moradora, destacando que o espaço dá emprego a pessoas da terra, onde há quem duvide da autenticidade do achado.

No café de Francisco Dias, de 55 anos, que admite ter havido “grande expectativa” quanto ao progresso que o Bairro ia alcançar, mas não alcançou porque a jazida “nunca mexeu muito com a aldeia”, um residente sugere que as pegadas são as marcas feitas pela maquinaria necessária para extrair a pedra.

“Não veio nada, para a gente nada”, acrescenta um ex-trabalhador da pedreira, numa alusão ao facto de ter sido o proprietário do espaço a ganhar dividendos, ao ser-lhe atribuída uma indemnização pelo Estado para que fosse assegurada a conservação da laje, classificada em 1996 como monumento natural.

Florinda Glória Rito, de 62 anos, recorda o entusiasmo dos residentes, que “isto ia para a frente, que vinha o desenvolvimento, mas foi tudo abaixo”.

“O Bairro não cresceu”, refere a moradora, enquanto outra residente, Isabel Silva, de 66 anos, confessa ter-se deslocado por três vezes à pedreira do Galinha – Rui Galinha era o proprietário da pedreira antes de esta passar para a alçada do Estado – “para perceber” o que lá estava.

Os cafés, muito de vez em quando, animam-se com excursões que param, mas O Transmontano, que “adotou” um dinossauro como imagem, encerrou portas entretanto.

O monumento, em área do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, abriu portas ao público a 01 de março de 1997. Contempla uma área de receção aos visitantes com pequeno auditório e loja, um circuito de visitação, um centro de animação ambiental e um jardim jurássico com painel sobre a história da terra.

Este espaço, juntamente com Vale de Meios (Santarém) e Pedra da Mua (Sesimbra), integrou uma candidatura ibérica de onze jazidas de pegadas de dinossauros a Património Mundial da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, mas na 34.ª Sessão do Comité do Património Mundial, no Brasil, em 2010, a inclusão não foi contemplada.