Foi nesta terça-feira que tudo aconteceu. O internacional espanhol Iker Casillas colocou uma fotografia no Instagram onde a noiva, a jornalista Sara Carbonero, aparece a segurar o filho do casal, Martín. A imagem captada em contexto de férias recebeu várias mensagens positivas, mas houve uma que destoou, diz o El Mundo. Referindo-se ao pequeno, um seguidor comentou: “Atira-o para a água e vê se flutua”. O guarda-redes, que não tem por hábito responder, não se conteve — “Tens de ser um grande filho da p… para fazer este comentário… Espero que tenhas vergonha, ao pensar no que escreveste, durante três minutos…. Idiota”. Resultado? Foram muitas as pessoas que se expressaram em claro sinal de apoio a Casillas.
A recente situação levanta uma questão que não é nova, mas que nem por isso deixa de ser pertinente: até que ponto pode uma celebridade expor os seus filhos nas redes sociais? O problema toca-nos a todos, é certo, mas ganha outro relevo quando a nossa conta de Instagram tem quase dois milhões de seguidores — é o caso de Iker Casillas.
“As regras das redes sociais, de um modo geral, devem ser definidas ou construídas pelo casal”, explica a psicóloga Cláudia Morais, autora do livro O Amor e o Facebook (2011). “Não raras vezes, o pai e a mãe têm dúvidas quanto à exposição dos filhos. É preciso que exista uma negociação, sem qualquer tipo de imposição”, diz ao Observador. Os procedimentos não mudam quando em causa está uma celebridade, mas é sempre importante ter um cuidado extra — “enquanto pais, somos nós quem toma decisões pelos bebés”.
Na esfera nacional, o “problema” também é real. A apresentadora Carolina Patrocínio foi mãe há, sensivelmente, três meses. Entretanto, a pequena Diana já apareceu em algumas imagens da página de Instagram da mãe. As fotografias da criança são discretas e dificilmente lhe vemos o rosto. Mas, numa entrevista ao Blog da Carlota, Carolina disponibilizou imagens mais ousadas, incluindo uma em que está a amamentar a filha.
A exercer a profissão há mais de 10 anos, Cláudia Morais considera razoável que, num casal em que um dos membros é uma figura pública, o receio da exposição seja menor. É, talvez, o caso de Carolina Patrocínio e do marido (jogador de râguebi). “Há sempre riscos em termos de feedback negativo e é preciso que exista uma estrutura para lidar com isso”. Caso estas ferramentas sejam reais, “não vejo grandes problemas”.
Mas por que é que partilhamos imagens dos nossos filhos, seja no Facebook, Twitter ou Instagram? A psicóloga não consegue definir exatamente o porquê, mas é capaz de “intuir” que tais ações surgem da “vontade de partilhar o diferente orgulho que cada pessoa sente em relação às suas crianças”, pelo que “a partilha é, até certo ponto, ingénua”. Quando uma pessoa que não é figura pública publica uma fotografia na sua rede de amigos, fá-lo para um meio pequeno. Por essa razão, a exposição é, teoricamente, menor. O contrário também acontece.
“É inevitável que a exposição de uma figura pública se estenda aos filhos”, assegura Cláudia Morais. Aliás, da mesma forma que há comentários negativos em relação a uma fotografia de um adulto, também há face à imagem de uma criança. “Não posso encarar esta exposição como ruinosa”, diz, explicando que um adulto que saiba gerir os comentários negativos pode sempre educar o filho nesse sentido.
“Essas crianças, filhas de celebridades, podem mais tarde ser vítimas de bullying, independentemente da postura que os pais tenham tido em relação à sua privacidade. Ser-se figura pública é estar à mercê de uma quantidade muito maior de comentários anónimos”.