O antigo líder do Partido Social Democrata (PSD), Marques Mendes, disse este sábado que ainda há muito por explicar na crise do Grupo Espírito Santo, e que, dos cerca de seis mil milhões de dívida do grupo, a grande maioria está na mão de portugueses.
Na sua rubrica semanal na SIC, o comentador quis passar a mensagem que a crise é no grupo e não no banco, referindo os diferentes setores em que o grupo está inserido – imobiliário, da construção e turismo, por exemplo – e que fez crescer a dívida do GES para cinco ou seis mil milhões de euros, dos quais, garante, cerca de 85% é detida por portugueses.
O comentador disse ainda que nas últimas três semanas o BES não tem tido administração – numa altura em que se perspetiva a mudança na presidência executiva de Ricardo Salgado para Vítor Bento – e que essa ausência de liderança pode comprometer a estabilidade e a normalidade, que diz ainda existir.
“Correu tudo mal”, referiu o comentador, apontando a contaminação da bolsa nacional como um dos problemas mais graves. Outro, o facto de esta situação prejudicar a imagem do país a nível internacional. “Ainda hoje [sábado] a senhora Merkel, ela própria, a falar do assunto. O que significa que o assunto ultrapassou as nossas fronteiras.”
Marques Mendes considerou também que, apesar de o GES ser um grupo privado, o assunto já deixou de o ser, porque estará a ter implicações na economia do país e que, por isso mesmo, têm de ser dadas mais explicações sobre a situação: “É uma questão de ética, tem de haver explicações sobre isto.”
O comentador instou ainda Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, a “intervir e já”, criticando o que considera ser alguma passividade na resolução dos problemas do grupo e do banco.
Marques Mendes questionou ainda como é que a Portugal Telecom emprestou quase mil milhões de euros ao GES, o que poderá ter provocado a sua queda na bolsa e eventualmente comprometer a fusão com a empresa de telecomunicações brasileira Oi.
“A PT perdeu muitíssimo dinheiro esta semana” e corre o risco de “nunca mais ver esse dinheiro”, disse, adiantando que quem estará a perder mais serão famílias portuguesas que compraram ações da empresa de telecomunicações.
A reestruturação proposta por Louçã e os 74 do Manifesto
Passando da crise do GES para a proposta de reestruturação da dívida pública portuguesa conhecida esta semana, da autoria de alguns dos subscritores do manifesto dos 74, Marques Mendes deixou críticas a alguns dos subscritores do manifesto.
“Muitos dos que assinaram com Louçã, em março, o tal documento devem estar bem incomodados e bem arrependidos”, afirmou o comentador, lembrando que Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix já discordaram publicamente da proposta, e que António Costa a classifica como inoportuna.
Marques Mendes disse que a ideia de não pagar do Manifesto 74 era “simpática” e que isso terá levado muitos a assinar, mas “ninguém dizia como”.
A proposta de Louçã, disse, é “um desastre” e acabou por matar a ideia da reestruturação.
Terminando com a greve dos médicos, Marques Mendes disse que “do plano sindical, não fez sentido”, porque “houve um sindicato que não participou”. O ex-líder do PSD classificou a greve como um movimento político, não contra o ministro da Saúde, mas contra o Governo.