Indonésia, estava decidido. Seria esse o próximo destino de David Slater. Férias? Nada disso. David é fotógrafo e, em 2011, decidiu fazer as malas e partir em busca de macacos. Não uns quaisquer — o alvo eram os elementos da espécie Macaca Nigra, comuns em vários ilhas do país do Sudeste Asiático. E lá foi ele, após pagar perto de 2.500 euros pela viagem e encher a mochila com cerca de 6.300 euros em material fotográfico.

O britânico andou pela Indonésia vários dias. Um deles foi especial. Quando estava a norte da ilha de Sulawesi, no meio de um bosque, um grupo de macacos aproximou-se de si e começou a remexer-lhe no equipamento.

Câmaras, tripés e objetivos, havia de tudo. Um dos espécimes agarrou numa câmara e, aos poucos, percebeu que a máquina soltava um pequeno ruído cada vez que carregava no botão do obturador. “O som captou a sua atenção e ele continuou a pressionar”, começou por recordar David Slater, ao Daily Telegraph. “Ao início, isso afugentou os restantes [macacos], mas eles rapidamente voltaram, e foi incrível de assistir”, prosseguiu.

Mas de ver o quê, afinal? Em suma, um espetáculo de selfies. Isso mesmo. “Deve ter tirado centenas de fotografias até ao momento em que consegui ter a minha câmara de volta”, revelou. Nem todas, claro, deram resultado. Umas desfocadas, outras apontadas ao chão ou com uma mão diante da objetiva, a tapar a visão. Não se podia esperar tudo. “Obviamente que ainda não tinha descoberto como lidar com o foco”, brincou David.

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A outra imagem que a Wikipédia vai mantendo na sua base de dados, por considerar de domínio público. Ou melhor, reconhecer os direitos de autor ao macaco que se auto-fotografou

Muitas imagens, portanto, não se aproveitaram. Duas delas, porém, compensaram — o macaco ficou perfeitamente enquadrado na imagem. Sucesso. As fotografias correram mundo. Jornais, revistas, websites, redes sociais. Tudo. Até que chegaram à Wikipédia. Ou melhor, ao Wikimedia Commons, plataforma que disponibiliza mais de 22,3 milhões de ficheiros multimédia de livre utilização.

Ou seja, estando lá, David Slater nada ganha com isso. O fotógrafo já tentou uma e outra vez que o Wikipédia retire as duas imagens da sua base de dados. Mas nada feito. E a empresa diz porquê: os direitos de autor das imagens não pertencem ao fotógrafo britânico. “Se o macaco tirou a fotografia, ele, e não eu, é dono dos seus direitos”, lamentou David, ao indicar o “argumento básico” da Wikipédia para manter as imagens na sua biblioteca livre.

David Slater queixa-se que a Wikipédia “não tem o direito de dizer” que as imagens pertencem ao domínio público. “Um macaco carregou no botão, mas eu tratei de tudo”, defendeu, antes de lamentar que, “por cada 1000 imagens” que tira, “uma delas” dá-lhe o dinheiro “para continuar” a trabalhar. “E esta era uma delas. Era literalmente um ano de trabalho”, sublinhou.

Por enquanto, a imagem lá continua, à mercê de quem a queira usar. Perdão, David, mas era boa demais para não as mostrarmos.