Poucos sabem que existe e menos ainda conhecem o que por lá se passa. A Apple tem um centro de formação complementar para os novos empregados, que é conhecida no meio como a “Universidade da Apple”. Na prática, trata-se de uma formação com duração de um ano, não é obrigatória, mas quem é convidado a participar raramente recusa a generosidade da oferta. O The New York Times conseguiu falar com três alunos, que sob anonimato revelaram alguns detalhes.

Apesar das especificidades de cada função e das particularidades que cada novo funcionário, há pontos em comum que “doutrinam” os formandos no espírito da Apple. É estudada a história e o desenvolvimento tecnológico da empresa, mas também a filosofia que guiou a Apple até àquilo que é hoje. O design, por exemplo, é um domínio transversal e fundamental para compreender o espírito da marca. E não fazem a coisa por menos: usam Picasso como exemplo. A obra “Bull” é desmontada em 11 imagens para analisar a técnica de simplificação utilizada pelo pintor espanhol. É esse o princípio utilizado para o desenho do hardware e do software da marca da maçã, do rato ao smartphone: usar a menor quantidade possível de passos para chegar a uma determinada função.

“Para quê usar 78 botões quando bastam três?”, explica Randy Nelson, um dos professores, ex-funcionário do estúdio de animação Pixar (co-fundada por Steve Jobs). Usam como exemplo a concorrência — no caso o comando da Google TV — para ilustrar o que acontece quando engenheiros e desenhadores fazem o que querem em vez de fazerem o que é preciso. E quem são os formadores da “Universidade da Apple”? Também é segredo. Sabe-se que são professores universitários de Yale, Harvard, da Universidade da Califórnia, Berkeley, Stanford e do M.I.T. e que alguns mantêm o vínculo às suas instituições de origem. A formação é de excelência e completamente orientada para a cultura da empresa e passa por estudar o próprio modelo de negócio. Uma das disciplinas usa como estudo de caso a história da inclusão do iTunes no Windows da Microsoft. Steve Jobs era completamente contra esta decisão e durante muito tempo este foi assunto de debate entre os executivos da Apple, até que Jobs acabou por ceder à pressão da maioria. Esta abertura ao sistema Windows foi determinante para o sucesso do iPod e, no futuro, do iPhone. Steve Jobs não tinha razão.

A atenção ao detalhe é uma das marcas da maçã. Desde a decoração das salas de aula à estrutura e modelos das apresentações, tudo é estudado ao pormenor; aliás, basta observar uma das famosas keynotes de apresentação de novos produtos para ficar com uma ideia.

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