A negociação de ações da Espírito Santo Saúde (ESS) na bolsa de Lisboa foi suspensa esta manhã pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), e entretanto levantada, devido à apresentação de uma oferta pública de aquisição (OPA) por parte do grupo Mello, detentor dos hospitais e clínicas CUF. Em agosto, o grupo mexicano Angeles também avançou com uma OPA sobre a empresa, valorizando-a em 4,30 euros por ação, num total de 410 milhões de euros.

Depois de ter assegurado financiamento junto do Banco Santander e do Caixa Banco de Investimento, o grupo Mello decidiu avançar sobre a Espírito Santo Saúde, oferecendo mais 10 cêntimos do que os investidores mexicanos da Angeles, isto é, 4,40 euros por ação e condicionando o sucesso da operação à obtenção de, pelo menos, 50,01% do capital da ESS. A contrapartida oferecida contempla um prémio de 21,78% relativamente à cotação do fecho de mercado no dia do anúncio preliminar da oferta original, a 19 de agosto, e de 37,5% face à cotação da oferta pública de venda da Espírito Santo Saúde, realizada a 12 de fevereiro de 2014.

Salvador de Mello, líder da empresa, disse ao Diário Económico, jornal que avançou a notícia, que o interesse da sua empresa já era conhecido. “Nunca escondemos que estaríamos disponíveis para explorar novas oportunidades de crescimento, particularmente em Portugal, e esta oferta sobre a ESS parece-nos uma boa oportunidade, tanto para a estratégia de consolidação da José de Mello Saúde, como para os acionistas da ESS”, disse o gestor.

No comunicado, o grupo Mello diz querer dar continuidade à atividade da Espírito Santo Saúde, que entre outros investimentos é detentora do Hospital da Luz, em Lisboa, “prevendo-se que seja proposta à sociedade visada [ESS] uma combinação com os negócios da oferente [grupo Mello]”. O grupo defende que esta integração vai permitir “uma operação mais eficiente” e “potenciar a qualidade” das clínicas e hospitais pertencentes a cada uma das unidades empresariais. “O sucesso desta oferta permitirá criar um grupo nacional de dimensão europeia na área da saúde, com solidez financeira, capacidade de investimento e mantendo os mais elevados padrões de serviço, alicerçados numa experiência de 70 anos que colocou a José de Mello Saúde como uma referência do sector em Portugal”, refere a empresa oferente em comunicado.

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Uma fusão destes dois grupos pode vir a levantar questões de funcionamento do mercado à Autoridade da Concorrência, segundo apontou o economista Pedro Pita Barros ao Diário Económico em agosto. Há, ainda, uma outra condicionante para a venda. É necessário o aval dos ministérios da Saúde e das Finanças, que têm de se pronunciar caso haja alterações na estrutura societária do Hospital de Loures, uma vez que o Estado tem um contrato de parceria público-privada (PPP) com o consórcio liderado pela Espírito Santo Saúde para aquele estabelecimento de saúde.

A ESS é detida em 51% pela Rio Forte, holding do Grupo Espírito Santo (GES) que está sob gestão controlada pelos tribunais do Luxemburgo, onde tem sede. O que obriga, também, a que tenha de haver autorização judicial deste país para a venda da empresa que agora é alvo de competição entre investidores portugueses e mexicanos.

Num comunicado datado de 9 de setembro passado, a administração da ESS, liderada por Isabel Vaz, considerou “aceitável” a OPA da Angeles, mas afirmou que o preço oferecido podia não se ajustar ao prémio de controlo da empresa. No mesmo documento, a ESS sublinhava que a média dos preços-alvo de sete instituições financeiras que acompanham a empresa era de 4,26 euros, o que representava um prémio de apenas 1% na oferta protagonizada pela Angeles.

No primeiro semestre de 2014, a ESS registou resultados líquidos de 8,7 milhões de euros, o que representou um crescimento de 45% em comparação com os primeiros seis meses do ano anterior. Os números apresentados pela empresa revelam, também, um EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 28,3 milhões de euros, um aumento de 1%, enquanto os rendimentos operacionais consolidados subiram em 6,4% para 201,1 milhões de euros.

Quanto à José de Mello Saúde, teve proveitos operacionais de 263 milhões de euros de janeiro a junho de 2014, uma EBITDA de 32 milhões de euros e o resultado líquido foi de 14 milhões de euros. No comunicado em que anuncia o lançamento da OPA sobre a ESS refere que, com base nos proveitos operacionais registados em 2013, a fusão das duas empresas do setor da saúde privada teria receitas de 867 milhões de euros e o EBITDA ficaria em 104 milhões de euros.