Acabou. Ao fim de 46 jogos, 25 vitórias, 11 empates e nove derrotas, Paulo Bento deixou de ser o selecionador nacional. A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou esta quinta-feira que terminou o vínculo contratual com o treinador, quatro dias após a derrota (0-1) contra a Albânia, em Aveiro, no primeiro encontro da fase de qualificação para o Europeu de 2016. A decisão, sublinhou a federação, foi tomada “em conjunto” e o sucessor de Paulo Bento “será conhecido em breve”.
O comunicado divulgado esta quinta-feira pela FPF:
“A Federação Portuguesa de Futebol comunica que hoje, 11 de setembro, termina o vínculo contratual de Paulo Bento com a FPF e ao serviço das Seleções.
Esta foi uma decisão tomada conjuntamente entre a Direção da FPF e Paulo Bento.
Agradecemos tudo o que Paulo Bento fez pela nossa Seleção, nomeadamente pelo apuramento de Portugal para o EURO 2012 e para o Mundial 2014.
A FPF já esta a trabalhar numa solução estruturada para dirigir as nossas Seleções e que será conhecida em breve.”
Mais uma vez obrigado ao treinador Paulo Bento.”
Vamos por datas. A 9 de abril, a pouco mais de dois meses do Mundial do Brasil, a FPF anunciava uma novidade — a renovação do contrato com Paulo Bento. De repente, o treinador ficava ligado à seleção nacional até ao fim do próximo Europeu. “Estamos muito satisfeitos por poder dar continuidade a um projeto que tem dado frutos”, sublinhava a entidade.
Chegada ao Brasil, a seleção desilude. A conversa começa nos problemas físicos de Cristiano Ronaldo, passa pela escolha dos locais de estágio e acaba nos resultados da equipa. São três jogos, repartidos por uma derrota (0-4, com a Alemanha), um empate (2-2, contra os EUA) e uma vitória (2-1, frente ao Gana). O resultado foi uma despedida precoce do Campeonato do Mundo, logo na fase de grupos.
Dois meses passam. E após deliberar e ressacar o Mundial, a FPF volta a reforçar a aposta em Paulo Bento. A 26 de agosto decide aproximá-lo do “trabalho de formação” e nomeia o treinador como chefe do novo “gabinete coordenador técnico nacional”. Nesse dia, Humberto Coelho, vice-presidente da federação, admite: “Não fomos competentes no Campeonato do Mundo.”
O tempo avança e chega o arranque de outra caminhada. Era altura de pensar no Europeu de 2016. A qualificação arranca em casa, em Aveiro, frente à Albânia. E na última vez que tem de escolher 23 nomes para a seleção, Paulo Bento decide surpreender — Ronaldo, o capitão, fica de fora. “Neste momento, não tem condições físicas para competir”, garante, ao explicar uma lista que inclui André Gomes, Ricardo Horta, Rúben Vezo, Adrien Silva e Ivan Cavaleiro.
Destes cinco, só o último já tinha minutos na seleção. Esperava-se uma renovação. Ou, pelo menos, os primórdios de algo novo. Nada disso. Em Aveiro, entre os 11 homens que começam a partida frente à Albânia, apenas surge André Gomes. Joga os 90 minutos. Ricardo Horta entra na segunda parte, como Ivan Cavaleiro. A seleção perde. 1-0, derrota e humilhação aos pés da seleção que a teoria dizia ser a mais fácil de um grupo também com Sérvia, Dinamarca e Arménia.
Na bancada avistam-se lenços brancos e ouvem-se assobios. O fantasma do Mundial voltara para assombrar a seleção. “Não me parece que por já tudo em causa seja o melhor caminho”, defende Paulo Bento, após o jogo. “Quando não corre bem, o que temos de fazer é respeitar as decisões e opções das pessoas e continuar o nosso caminho”, acrescentou. Quatro dias após a derrota, a relação com Paulo Bento termina.
Uma meia-final, dois play-offs e 46 jogos feitos
A 10 dias de atingir os quatro anos à frente da seleção nacional — foi apresentado no cargo a 21 de setembro de 2010, sucedendo a Carlos Queiroz –, a era de Paulo Bento terminou. A aventura na seleção começou a 8 de outubro, no Estádio do Dragão, contra a Dinamarca. A seleção, aí, estava apertada na corrida para Euro 2012. Mas correu bem: vitória por 3-1, na estreia.
O primeiro onze escolhido por Paulo Bento, a 10 de outubro de 2010: Eduardo; Fábio Coentrão, Pepe, Ricardo Carvalho e João Pereira; Raul Meireles, João Moutinho e Carlos Martins; Nani, Cristiano Ronaldo e Hélder Postiga.
A primeira derrota oficial — pelo meio, Portugal perdeu um amigável com a Argentina — chegaria a 11 de outubro de 2011, quando a seleção foi a Copenhaga perder (2-1) e ser empurrada para um play-off de apuramento. Faltava vencer a Bósnia. Bento consegue-o e reserva o bilhete para o Europeu ao vencer por 6-2 no Estádio da Luz, após o 0-0 da primeira mão.
No Euro da Polónia e da Ucrânia, a coisa começa mal. Portugal perde (0-1) com a Alemanha. Fica obrigado a ganhar. É o que faz: Dinamarca, Holanda e República Checa, todos perdem quando encontram a seleção nacional, que só para nas meias-finais, quando uma Espanha a caminho do bicampeonato europeu derrota os portugueses nos penáltis.
É como uma das quatro melhores seleções europeias que Portugal chega à qualificação para o Mundial 2014. Uma vez mais, a viagem faz-se com solavancos. Em Moscovo, ao terceiro jogo da corrida, a equipa perde (1-0) com a Rússia de Fabio Capello. Depois vai à Irlanda do Norte empatar (1-1) e empata as duas partidas que faz com Israel. Resultado: segundo lugar do grupo e mais um play-off à espera. Calhou a Suécia, de Zlatan Ibrahimovic. Mas Portugal tinha Cristiano Ronaldo, que marcou quatro golos e puxou a seleção para o Mundial.
Último onze de Paulo Bento, a 7 de setembro de 2014: Rui Patrício; Fábio Coentrão, Ricardo Costa, Pepe e João Pereira; William Carvalho, André Gomes e João Moutinho; Nani, Vieirinha e Éder.
Finda a experiência no Mundial, veio a derrota com a Albânia. A nona de Paulo Bento com a seleção nacional, que terá espoletado a saída do treinado. Com três anos e 355 dias ligado à FPF, o técnico chega ao fim com 46 encontros realizados, divididos por 25 vitórias, 11 empates e nove derrotas. Agora, venha o sucessor, sobre quem a federação, para já, apenas disse que será “conhecido em breve”.