Depois das pastas estarem definidas, é altura de preparar os comissários para o teste mais difícil: as audições públicas no Parlamento Europeu. Estas apreciações estão marcadas para o final de setembro, mas Juncker sabe a importância de apresentar uma equipa credível e já está a preparar os seus novos comissários para enfrentarem os eurodeputados. Alemães, espanhóis e franceses estão divididos quanto à pasta atribuída.

Entre 29 de setembro e 7 de outubro os novos comissários vão passar pelo Parlamento Europeu para defender o seu posto na nova Comissão Juncker. Vão enfrentar audições de até três horas – transmitidas em streaming – onde serão questionados pelos eurodeputados de cada comissão parlamentar e antes disto terão de entregar até dia 26 de setembro um questionário escrito. A não esquecer que os eurodeputados presentes representam as várias famílias políticas e o interesse nacional de cada um dos seus países, fazendo com que o exame seja também um ato político.

Apesar de só durante esta semana se saber quem vai falar em que dia, é conhecido para já que os resultados destas audições públicas serão analisados no dia 9 de outubro, quando a conferência de presidentes, que reúne os líderes das famílias políticas do Parlamento Europeu, e chegar a acordo sobre as competências de cada um dos comissários. Juncker será avisado se a sua equipa passou ou não no teste e caso alguns comissários sejam reprovados, terá de os substituir.

O calendário oficial aponta que a nova equipa será votada no dia 22 de outubro pelo Parlamento Europeu em Estrasburgo, permitindo assim, caso seja aprovada, que Juncker substitua Durão Barroso a 1 de novembro. A escassez de tempo e a necessidade de preparar os seus comissários fez com que Jean Claude Juncker juntasse os seus 27 eleitos na semana passada em Genvel, perto de Waterloo, na Bélgica, num género de seminário. Carlos Moedas também esteve presente.

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Os comissários da discórdia

Assim que a distribuição das pastas foi conhecida, as oposições de vários países criticaram o respetivo portfólio, minando a credibilidade dos seus comissários. Se em Portugal a escolha de Moedas para liderar a Investigação europeia foi apelidada de “ridícula” – como referiu António Galamba, dirigente do PS -, em Espanha e na Alemanha há também quem ponha em causa as escolhas de Juncker.

Em Espanha, a pasta de Miguel Arias Cañete, que ficará encarregue da Energia e Clima na Europa nos próximos cinco anos, está a ser fortemente questionado pelo partido sensação Podemos e pelo seu carismático líder (que também é eurodeputado), Pablo Iglésias. “É chocante que alguém que detém 2% da Ducar [um dos maiores concessionários espanhóis] seja nomeado comissário do Clima”, disse o líder do Podemos. Também os Verdes espanhóis se mostraram indignados com a escolha e várias organizações internacionais como a Greenpeace e a WWF já vieram criticar a aposta de Juncker.

Na Alemanha, a escolha Günther Oettinger, até agora comissário da Energia, para liderar a Economia digital chocou alguns eurodeputados. Jan Philipp Albrecht, dos Verdes alemães e que esteve em Portugal a convite do partido Livre em Maio, disse ao Euroactiv que estava chocado com esta nomeação, pois para além de Oettinger náo ter qualquer ligação ao meio digital – o eurodeputado diz que ele nem interage nas redes sociais -, não compreende as grande empresas de Silicon Valley. “A nomeação de Oettinger não vai ajudar a economia digital de maneira nenhuma”, afirma o eurodeputado.

Já o comissário francês está sob fogo por várias razões. Desde logo pelas razões apontadas por Juncker para a sua nomeação. “Pensei que seria relevante que aqueles que melhor compreendem os problemas de certos países, venham desses países para resolvê-los”, disse Juncker sobre a escolha de Pierre Moscovici, ex-ministro das Finanças francês, para comissário dos Assuntos Económicos na conferência de imprensa de apresentação da comissão no mesmo dia em que foram conhecidos os números do défice francês. Não é só a direita francesa que crítica a pasta, mas também vários políticos alemães defendem que esta escolha é “errada”.