Há um novo vídeo que mostra mais um refém inglês, o jornalista John Cantlie, do Estado Islâmico (EI), avança a BBC. Os militantes do EI já mataram três reféns, dois ingleses e um norte-americano, e ameaçaram a vida de mais um cidadão britânico, Alan Henning, 47 anos. Desta vez, não houve imagens de qualquer decapitação.
No vídeo divulgado esta quinta-feira, sob o título “Empresta-me os teus ouvidos”, o cidadão britânico afirma ser um prisioneiro do EI, mas nenhum dos militantes aparece nas filmagens. O cidadão aparece vestido com roupa cor de laranja, fala diretamente para a câmara, a partir de uma secretária e informa que vai ser possível acompanhá-lo “nos próximos programas”.
O correspondente da BBC no local, Frank Gardener, disse que o refém falava para a câmara numa “espécie de paródia”, dizendo que tinha sido “abandonado” pelos Estados Unidos da América e pelo Reino Unido. Além disso, perguntou porque é que estes países estavam tão interessados em participar noutra guerra, quando outros governos europeus tinham tentado negociar a libertação dos seus reféns, segundo a BBC.
O The Telegraph acrescenta que o refém pede ao Governo britânico para negociar com os seus captores, explicando que está preso há cerca de dois anos e que “o seu destino está nas mãos do Estado Islâmico“. Mais: que vai fazer parte de uma série de programas nos quais procura expor a “verdade por trás do Estado Islâmico”. O refém diz ainda que a única forma de ser libertado é através do pagamento de uma caução, por parte do Governo britânico.
“É verdade que sou um prisioneiro, não posso negar isso, mas tendo em conta que fui abandonado pelo meu Governo e o meu destino está nas mãos do EI, não tenho nada a perderr”, diz o refém, citado pelo The Telegraph.
A BBC explica que percebe-se que a filmagem foi feita este ano, apesar de não ser possível precisar quando, pelos comentários do vídeo e o The Telegraph acrescenta que este novo vídeo marca uma mudança na tática do Estado Islâmico. No vídeo divulgado esta quinta-feira, o prisioneiro afirma que viajou para a Síria em novembro de 2012, e que foi capturado pelo Estado Islâmico depois.
No sábado, o Estado Islâmico matou o primeiro cidadão britânico, David Haines, e as suspeitas recaem sobre”Jihadi John”, o militante com sotaque inglês que também pode ter sido responsável pela decapitação de dois jornalistas norte-americanos.
“Talvez viva, talvez morra. No entanto, quero aproveitar esta oportunidade para transmitir alguns factos que podem ser verificados. Factos que, se forem contemplados, podem ajudar a preservar vidas”, diz o refém no vídeo.
O cidadão britânico diz ainda que vai mostrar a verdade sobre as motivações do Estado Islâmico e como é que os media ocidentais, “organização para a qual costumava trabalhar”, pode “torcer e manipular” a verdade. “Acham que estão a ver tudo?” pergunta.
https://www.youtube.com/watch?v=L5pbKwAwri0
Tradução integral do discurso do refém britânico, no vídeo:
“Olá. O meu nome é John Cantlie. Sou um jornalista britânico que trabalhava para alguns dos mais conceituados jornais e revistas britânicas incluindo o Sunday Times, o The Sun e o Sunday Telegraph.
Em novembro de 2012, vim para a Síria onde fui capturado pelo Estado Islâmico (EI). Agora, quase dois anos depois, muitas coisas mudaram, incluindo a expansão do EI para agregar grandes áreas do leste da Síria e do oeste do Iraque. Uma região maior que a Grã-Bretanha e que muitas outras nações.
Eu sei o que estão a pensar: “Ele só está a fazer isto porque é um prisioneiro. Ele tem uma arma apontada à cabeça e estão a obrigá-lo a fazer isto”, certo? É verdade que sou um prisioneiro, não posso negar isso, mas tendo em conta que fui abandonado pelo meu Governo e o meu destino está nas mãos do EI, não tenho nada a perder.
Talvez viva, talvez morra. No entanto, quero aproveitar esta oportunidade para transmitir alguns factos que podem ser verificados. Factos que, se forem contemplados, podem ajudar a preservar vidas. Durante os próximos programas, irei mostrar-vos a verdade. Enquanto isso, os meios de comunicação do ocidente tentam arrastar o público para o abismo de outra guerra contra o EI.
Depois de duas guerras desastrosas e extremamente impopulares, no Afeganistão e no Iraque, porque está o nosso Governo tão inclinado, aparentemente, para se envolver noutro conflito do qual não é possível saírem vencedores?
Vou mostrar-vos a verdade por trás destes sistemas e da motivação do EI e como os meios de comunicação do ocidente, a mesma organização para a qual eu trabalhava, podem distorcer e manipular a verdade para todos os que estão em casa.
Cada história tem dois lados – acham que estão a ver tudo? Vou mostrar-vos a verdade por trás do que aconteceu quando muitos cidadãos europeus foram aprisionados e, mais tarde, libertados pelo EI e como os governos britânico e norte-americano pensaram que podiam agir de modo distinto dos restantes países europeus. Eles negociaram com o EI e resgataram os seus reféns enquanto os britânicos e norte-americanos foram deixados para trás.
É muito alarmante perceber a direção que isto está a tomar e parece que a história se está a repetir mais uma vez. Há tempo para mudar esta sequência, aparentemente inevitável, de acontecimentos mas apenas se vocês, o público, agirem agora. Acompanhem-me nos próximos programas e acho que podem ficar surpreendidos com o que vão descobrir.”
Tradução de Francisco Ferreira