Vencer um Nobel é certamente um dos momentos altos na carreira e na vida de qualquer personalidade, premeia todos os anos a descoberta, o pensamento e a ação de notáveis em várias áreas do conhecimento humano — por exemplo Física, Medicina, Literatura, Paz. Mas em 1991 foi criado um prémio que é, na prática, uma paródia aos Nobel, mas que tem argumentos para fazer refletir sobre ciência. São os prémios Ig Nobel, criados e promovidos por cientistas que venceram os verdadeiros Nobel e que servem para demonstrar as estranhas aplicações — e estudos — feitos nas diversas áreas do conhecimento. Aliás, o próprio mote destes prémios Ig Nobel é “primeiro fazer as pessoas rir, e depois pensar”.

Como a paródia é bem construída, tem até uma suposta justificação histórica: terá sido o não-existente primo direito de Alfred Nobel, de seu nome Ignatius Nobel, quem fundou estes prémios em nome da ciência peculiar. Este seria o responsável pela existência das bebidas gaseificadas, tendo enriquecido com essa descoberta e fundado os prémios com o seu nome.

A lógica cerimonial é fácil de explicar: a organização Improbable Research (Investigação Improvável) reúne e analisa centenas de estudos publicados em revistas científicas credíveis, sobre matérias que estão na fronteira entre a utilidade e o humor. São estes estudos genuínos que são premiados, numa cerimónia hilariante que conta com a presença de vários prémios Nobel e ainda mais cientistas de topo. Os Ig Nobel não têm um tema “fixo” e a maneira mais eficaz de ilustrar em que consiste esta paródia (e a sua importância) é assinalar alguns exemplos de prémios atribuídos:

Prémio de Psicologia em 2013: a confirmação experimental de que as pessoas que pensam que estão bêbedas pensam também que são mais atraentes. Também em 2013, o prémio conjunto de Biologia e Astronomia: a descoberta que quando o escaravelho-de-bosta se perde, consegue guiar-se pela Via Láctea. Ou, em 2012, o prémio da Medicina atribuído pelo aconselhamento técnico aos médicos que executam colonoscopias para evitar que os seus pacientes expludam. E em 2006, o prémio de Biologia: a descoberta que o mosquito vetor da malária é atraído de igual forma pelo cheiro dos pés e pelo do queijo belga Limburger.

Porque é que vale a pena nomear tanta ciência estranha? Por exemplo, porque este queijo passou a ser usado em armadilhas para aprisionar os mosquitos. Os Ig Nobel são atribuídos por vencedores de prémios Nobel “a sério”, o que reforça a importância humorística do evento mas sobretudo, o mérito e credibilidade de descobertas publicadas em revistas sérias; tanto assim é que os Ig Nobel são apresentados numa das universidades mais conceituadas do mundo (Harvard) e apadrinhada pela British Science Association. Esta quinta-feira decorre a 24ª edição no Sanders Theatre — em Harvard (EUA) — ao final da tarde (23h00 em Portugal continental), o evento é transmitido em direto pela internet e será acompanhado em detalhe aqui no Observador.

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