A orquestra da Escola de Música do Conservatório Nacional tocou desde o hino de Portugal a “A cantiga é uma arma”, de José Mário Branco. Entre gritos de “queremos aulas, queremos música, queremos professores”, mais de uma centena de pessoas, entre alunos de todas as idades, pais e professores, manifestaram-se de forma ordeira.

A Escola de Música do Conservatório Nacional assinala assim, esta quarta-feira, o Dia Mundial da Música com uma manifestação em frente ao Ministério da Educação (MEC), em Lisboa. As aulas já deviam ter começado antes de 15 de setembro mas, duas semanas depois, ainda faltam 48 dos 160 professores. Todos do ensino vocacional.

“Ela está muito entusiasmada por ter entrado”, disse ao Observador Ana Barros, na véspera da manifestação, sobre o ingresso da filha Lia no primeiro ano do Conservatório. A esteticista de Odivelas quer ajudar a filha a cumprir o sonho de aprender a tocar harpa mas, sem professores de música, Lia, de 10 anos, ainda não conseguiu entender as diferenças entre a velha e a nova escola.

Foi por isso que Ana Barros, juntamente com outros encarregados de educação, professores e alunos se quiseram deslocar até à Avenida 5 de Outubro, onde fica o edifício do MEC. “Para que a colocação de professores se realize um bocadinho mais cedo, e não em cima das aulas, o que faz com que as crianças comecem só a 50%, com horas mortas”.

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As horas mortas são precisamente as do ensino vocacional, ou de música. Os professores das disciplinas de ensino académico, como história, ciências e português, já estão colocados e essas aulas já começaram, para não atrasar o programa. O problema são os “atrasos insustentáveis” na colocação de professores do ensino vocacional. Até ao momento estão na escola 28 professores, faltam 48, de acordo com a direção, o que representa quase um terço de todo o corpo docente. Também estão em falta funcionários. Na impossibilidade de dar aulas de músicas a todos, foi decidido iniciar quando todos os docentes chegarem à escola, para evitar injustiças.

“Nenhuma das aulas de música começou ainda porque estamos neste momento a fazer as primeiras entrevistas, ou seja, nós conseguimos ontem fazer a exportação dos docentes que estavam em concurso, conseguimos agora estar a trabalhar mas temos centenas de pessoas para entrevistas”, explicou Ana Mafalda Pernão, diretora da Escola de Música do Conservatório Nacional.

Só a 15 de setembro é que Nuno Crato autorizou a contratação de professores, sem no entanto ter divulgado as listas do concurso de vinculação extraordinária lançado este ano para os docentes do ensino artístico. Sem a lista, não era possível saber ao certo quantos professores passavam aos quadros e, consequentemente, quantos lugares deveriam ser lançados para contratação anual.

Ana Mafalda Pernão garante que as aulas começam na próxima semana, ainda que as entrevistas aos docentes só terminem na terça-feira. Mas o atraso de três semanas implica que docentes e discentes “tenham de fazer um esforço adicional para tentar recuperar o programa”, disse a diretora. Um problema que afeta os outros conservatórios públicos e as escolas secundárias de ensino artístico especializado, como a António Arroios em Lisboa e a Soares dos Reis no Porto.

“Como sempre a cultura e o ensino artístico são sempre colocados para trás. Nunca houve atraso como este ano. É para evitar situações futuras que nós fazemos a manifestação, porque nós não queremos que para o ano seja igual”, disse a diretora.

Também Maria José Borges, professora de História da Música, quis manifestar o seu descontentamento. “Não há cuidado em perceber a especificidade das escolas de música, que não se arrumam no ensino regular”.

Até 2012, as contratações eram feitas em agosto. Mas com a mudança de regras no Ministério da Educação, os atrasos começaram a sentir-se desde o ano passado. O Observador contactou o gabinete de Nuno Crato, mas não obteve resposta.