Agora é a sério. E elas já tinham avisado: ou a relva passava a ser natural, ou cerca de 100 jogadoras iam entrar nos tribunais com uma ação legal contra a FIFA. Porquê? Por causa do próximo Mundial de futebol feminino, que a entidade optou por realizar no Canadá — só em campos com relvados artificiais. Feitos de plástico e borracha. E as jogadoras consideram isso uma discriminação.

A história já se arrasta há algum tempo. Desde atribuição da prova ao Canadá — cuja candidatura assentava em acolher o Mundial em seis estádios com relva sintética — que várias jogadores, incluindo Abby Wombach, internacional norte-americana, ou Nadine Angerer, guarda-redes alemã, eleita melhor jogadora do Mundo em 2013, se têm oposto a este tipo de relvados. A 27 de julho, aliás, fizeram um ultimato à FIFA.

Nesse dia enviaram uma carta à entidade, dizendo-lhe que, ou alterava os relvados para o Mundial, ou avançariam com uma queixa em tribunal contra a FIFA. Se algum responsável da entidade lhes respondeu, não se sabe. Mas a 26 de setembro, no mesmo comunicado em que anunciou a iminente proibição de os clubes partilharem os passes de jogadores com terceiros (‘third party ownership’), a FIFA revelou também que ia “contratar uma empresa independente para viajar rumo ao Canadá e testar os relvados” para o Mundial de 2015.

Logo, nada disse sobre uma eventual mudança de estádios ou campos. As jogadoras, portanto, cumpriram a promessa. E não são poucas: na queixa que esta sexta-feira deu entrada no Tribunal de Direitos Humanos de Toronto, no Canadá, constam os nomes de quase uma centena de jogadoras, oriundas de 12 países. Todas acusam a FIFA de violar a lei canadiana, que dita que “qualquer pessoa tem o direito ao igual tratamento em relação a serviços, bens e infraestruturas, sem discriminação”.

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No comunicado revelado por Hampton Dellinger, advogado das jogadoras, lê-se o resto: “O Campeonato do Mundo de Futebol masculino é jogado em relvados naturais e a FIFA está a relegar as mulheres para campos de relva artificial.” O objetivo, portanto, é só um — que a entidade corrija a situação e faça com que o Mundial seja realizado sobre relva natural. Para já, com ou sem processo em tribunal, a entidade não parece estar para aí inclinada.

Carrie

Mensagem que Carrie Serwetnyk, a primeira mulher a ser incluída no Hall of Fame do futebol canadiano, publicou na sua página de Facebook. “Tenho orgulho em ter a oportunidade de falar em prol de mudanças positivas para as mulheres no desporto”, escreveu.

Pelo menos tendo em conta o que Tatjana Haenni disse. A vice-diretora para as competições da FIFA e responsável pelas competições do futebol feminino, sublinhou que “não há intenção de mudar a decisão” de realizar o Mundial nos seis estádios já definidos — todos eles com relvados artificiais. “Não posso dizer se é justo ou não, mas é assim que vai ser. Está de acordo com os regulamentos e com as leis do jogo, portanto, todos os encontros serão realizados em relva sintética”, argumentou, citada pelo The Guardian. “Não há plano B”, concluiu.

Agora é esperar pelos desenvolvimentos que o processo conheça na justiça canadiana. As jogadoras, contudo, já frisaram que não pretendem fazer um boicote ao Mundial. “Eles [FIFA] sabem que não conseguiriam fazer isto com os homens. Eles boicotariam a prova. Simplesmente não aconteceria. Por isso estão a colocar as mulheres numa posição desconfortável em que sabem que elas vão aparecer e jogar. E não é esse tipo de torneio que queremos ter num Mundial”, defendeu Carrie Serwetnyk, ex-jogadora e primeira mulher a ser incluída no Hall of Fame do futebol canadiano, à CTV News.

As mulheres, as jogadoras, não vão boicotar o Mundial. Apenas não querem andar aos pontapés à bola em cima de um relvado artificial.