O Presidente da República defendeu este sábado que a participação portuguesa na I Guerra Mundial deixou uma “dura lição” da incapacidade para assumir esse compromisso. “O início do conflito ocorreu num período de forte instabilidade em Portugal, com uma profunda crise política e económica que levara a descurar, de forma comprometedora, a capacidade militar do país”, afirmou Cavaco Silva.

O Chefe de Estado falava durante uma cerimónia de homenagem aos mortos da Grande Guerra, no âmbito da evocação do Centenário da I Guerra Mundial, junto a um monumento evocativo, na avenida da Liberdade, em Lisboa. “Ficou a dura lição da incapacidade do país para assumir tão exigente compromisso, de que resultou a impreparação e o abandono dos nossos militares, com trágicas consequências e custos humanos elevados”, defendeu.

A realidade que Portugal vivia então “não impediu que se assumissem compromissos sem que estivessem reunidas as condições necessárias à preparação e ao apoio das forças militares, decisão que se veio a revelar dramática para o país e para milhares de portugueses”, assinalou.

O Presidente da República afirmou que da participação portuguesa na I Guerra Mundial fica o “exemplo e o legado que deixaram para as gerações futuras” os “soldados caídos que encontraram o fim do sofrimento no descanso final”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Da história da Guerra fica o exemplo extraordinário da coragem e do amor à pátria do soldado português. Fica o testemunho sublime de uma vontade inquebrantável, de uma capacidade de sofrimento e de um espírito de sacrifício sem limites de um punhado de portugueses que honraram Portugal nos campos de batalha de África e da Flandres”, declarou.

Cavaco Silva referiu-se à homenagem que decorre este sábado por todo o país aos mortos da I Guerra Mundial, naquilo que sublinhou ser o cumprimento de um “compromisso de honra de manter viva a memória do seu exemplo de dedicação à pátria”. “Fazemo-lo frente aos monumentos evocativos da Guerra, memoriais que testemunham o esforço e o sacrifício de milhares de portugueses que se dispuseram a dar a vida por Portugal, nos campos de batalha da Flandres, de Angola e de Moçambique, sem esquecer os que pereceram no flagelo do cativeiro, num quadro de extrema miséria e completo esquecimento”, afirmou.

“A Grande Guerra marcou decisivamente o percurso da história contemporânea europeia e mundial. Foi uma rutura de dimensões múltiplas, que determinou o fim dos grandes Impérios, redesenhou o mapa político da Europa e alterou as relações de poder entre os estados”, recordou.

Cavaco Silva disse que o conflito “foi o termo de um longo período de paz e da ilusão de que a interdependência económica e financeira das potências tornaria improvável qualquer ato de agressão” e frisou que “os primeiros sinais de conflito foram ignorados”. “A eclosão da Guerra acabou por surpreender pela brutalidade e extensão”, disse.

Para o Chefe de Estado, “é vital” aprender “com o passado, nunca deixando de valorizar a paz e a liberdade e nunca subestimando o esforço daqueles que as conquistaram e as mantêm”. “A memória da Grande Guerra deve constituir-se num tributo ao sacrifício, ao valor e ao carácter do soldado português”, afirmou.

O Presidente depôs uma coroa de flores junto à estátua, ouviu um toque de homenagem aos mortos em combate e uma prece religiosa e, após ler a sua mensagem, descerrou uma placa alusiva a esta homenagem.