Os primeiros órgãos reprodutores masculinos para fecundação interna – quando o sémen é colocado dentro da fêmea – surgiram há mais de 450 milhões de anos. Uma característica que parecia ter desaparecido com a extinção dos detentores, os peixes placodermes. Mas milhões de anos mais tarde os peixes e outros vertebrados reinventaram os órgãos para cópula interna, conta este domingo a revista Nature.

Há cerca de 470 milhões de anos o ramo dos peixes sem mandíbulas, como as lampreias, separou-se do grupo de peixes com mandíbulas que viria a dar origem aos placodermes – um grupo agora extinto que tinha o grupo coberto de placas. Enquanto o ramo das lampreias, como ainda hoje acontece, libertava o esperma e os ovos na água para que a fecundação acontecesse externamente, os placodermes tinham dois órgãos copuladores ósseos em forma de L que introduziam nos órgãos genitais das fêmeas (vídeo).

“O macho consegue colocar o órgão sexual em forma de L na posição correta para se ligar aos órgãos genitais femininos [duas placas], que parecem raladores de queijo – tão ásperos que atuam como velcro – prendendo o macho na posição certa para transferir o esperma”, afirma John Long, investigador na Universidade Flinders, na Austrália, no Guardian.

Já se sabia que os placodermes tinham desenvolvido este tipo de reprodução, mas o que o estudo liderado por John Long, agora revela é que todos os placodermes, até as espécies mais antigas, tinham esta característica. Apesar de o ramo dos placodermes poder ser ancestral da maior parte dos vertebrados hoje existentes, a extinção destes animais levou ao desaparecimento da característica e os peixes voltaram à fecundação externa.

“O que o nosso artigo sugere é que depois de os primeiros vertebrados com mandíbulas terem desenvolvido fecundação interna, esta foi perdida até ao ponto em que estava o ancestral comum dos peixes com mandíbulas [e sem mandíbulas]”, disse à Nature John Long. Nos milhões de anos que se seguiram alguns peixes, como as raias e os tubarões, reinventaram os órgãos copuladores, enquanto os restantes peixes e os anfíbios mantiveram a fecundação externa. Mais tarde répteis, aves e mamíferos desenvolveram o órgão sexual masculino a que chamamos pénis.

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