O presidente do Conselho Geral de Enfermagem (CGE) espanhol considerou esta terça-feira que o elevado número de riscos associados à resposta ao vírus do ébola em Espanha nunca permitirá saber exatamente como se contagiou Teresa Romero.

“Perante tantos fatores de risco, acho que nunca se vai conseguir saber o que permitiu o contágio. Houve um incidente que permitiu o contágio, isso é correto. Mas estavam implementadas as medidas adequadas e necessárias para minimizar, não evitar a 100 por cento, mas para minimizar o possível risco? O nosso relatório considera que não”, considerou Máximo Gonzalez Jurado.

“Não podemos chegar a conclusão de qual foi a causa porque há muitos elementos de risco. Mas procuramos alertar para estes fatores de risco, para que se reduzam no futuro”, afirmou.

Em conferência de imprensa, Gonzalez Jurado apresentou as conclusões de um detalhado relatório de investigação ao primeiro caso de contágio, o da auxiliar de enfermagem Teresa Romero. O relatório foi feito por uma equipa de especialistas onde participaram fundamentalmente enfermeiras e enfermeiras que tiveram contacto com pacientes contagiados e afetados pelo ébola em Espanha.

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Surge depois de um relatório preliminar, conhecido na véspera do alerta pela infeção de Teresa Romero, a 05 de outubro, que já apontava “deficiências importantes do ponto de vista da segurança dos profissionais”. O relatório aponta, entre outras deficiências, a falta de formação, desconhecimento sobre os protocolos e o uso de equipamento desadequado, com os próprios formadores a terem problemas no seu uso.

Óculos inadequados fornecidos para o tratamento e outras deficiências nos uniformes, contacto com resíduos, uso de antisséticos inadequados na medicina preventiva (que podiam provocar danos nos próximos uniformes), e falta de formação para o processo ‘pós-mortem’ são outros dos problemas.

Além do uniforme em si, no estudo detetaram-se erros na forma como o seu uso foi explicado, tanto na colocação como, posteriormente, e depois de contacto com o paciente, na retirada. Gonzalez Jurado criticou ainda, entre outros aspetos, o facto dos enfermeiros nunca terem sido ouvidos pelas autoridades para planear ou definir protocolos ou métodos de prevenção e redução de riscos.

“Das 108 entradas registadas nos quartos do paciente com ébola que morreu em Madrid, 102 foram de enfermeiros e enfermeiras. Ou seja, os profissionais responsáveis por 95% das intervenções junto do paciente nunca foram consultados”, afirmou. O responsável da CGE aproveitou a conferência de imprensa para criticar o ‘ministro’ regional da Saúde, que “perdeu toda a confiança do público e dos profissionais” por acusar a auxiliar de enfermagem de responsabilidade pelo contágio.

Considerando imoral que ainda permaneça em funções, exigiu que seja demitido do cargo. “Quando ocorreu o contágio tínhamos claro desde o primeiro momento que se ia penalizar e culpabilizar a Teresa como a responsável pelo seu contágio. Não tínhamos dúvidas. Porque este é o manual que existe normalmente”, disse.

“Jamais o sistema erra, só erram os profissionais. Sempre achámos que se ia encontrar um bode expiatório que, neste caso, seria a profissional”, afirmou. A divulgação do relatório ocorre no dia em que, previsivelmente, será conhecido o resultado da última prova a Teresa Romero que, a ser negativa como a anterior, realizada no domingo, confirmaria que superou a doença.