A Força Aérea Portuguesa intercetou esta quarta-feira dois bombardeiros russos Tupolev-95 a oeste da costa portuguesa que sobrevoavam águas internacionais e não chegaram a entrar no espaço aéreo português, apurou o Observador.

A informação foi divulgada, em comunicado, pela NATO que denunciou ter detetado “manobras aéreas incomuns” e de “grande escala” da Rússia no espaço aéreo sobre o Oceano Atlântico e os mares Báltico, do Norte e Negro, nos últimos dois dias.

As duas aeronaves russas são aviões de patrulhamento marítimo de grande alcance e já tinham sido detetados pela Força Aérea norueguesa. Os F16 portugueses atuaram por uma questão de segurança aérea.

Os aviões russos não estavam identificados e não tinham plano de voo autorizado, soube o Observador, representando assim uma ameaça para a aviação civil nacional. Os F16, que descolaram da base aérea de Monte Real, fizeram identificação visual dos aparelhos e escolta até estes rumarem à zona oeste do Reino Unido. Contactada, a Força Aérea Portuguesa recusou fazer qualquer comentário, remetendo esclarecimentos para a NATO.

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Segundo fonte militar, há cerca de 25 anos que a Força Aérea não se via envolvida numa situação deste género. “Isto era muito habitual na guerra fria e até durante uns anos depois da queda do muro de Berlim”, disse a mesma fonte. Contudo, desde essa altura que os aviões militares portugueses (ainda não os F16, pois só foram comprados em 1994) não intercetavam aviões russos.

19 aviões russos intercetados nos últimos dois dias

Em comunicado, citado pela agência noticiosa AFP, a NATO adianta que “detetou e controlou quatro grupos de aviões militares russos a realizarem manobras militares significativas no espaço aéreo europeu”, entre esta terça e quarta-feiras.

Aeronaves de três países da Aliança Atlântica descolaram de quatro locais diferentes para realizarem as missões de interceção dos quatro grupos de aviões militares russos “em manobras” nos espaços aéreos dos mares Báltico, do Norte e Negro.

A mais importante operação mobilizou aparelhos de três países da NATO, após a detenção de um grupo de oito aviões russos – quatro bombardeiros e igual número de aeronaves de reabastecimento – a voarem em formação sobre o Atlântico. Aviões da força aérea norueguesa dirigiram-se ao encontro dos aparelhos russos para os identificar.

Seis aviões militares russos alteraram as rotas, mas dois outros, bombardeiros Tupolev-95, não alteraram o percurso, levando aparelhos da força aérea britânica a descolarem para os escoltar até serem entregues à Força Aérea Portuguesa, igualmente para escolta, no espaço aéreo português.

Os outros aviões russos foram controlados pelas forças britânicas e norueguesas.

Segundo a NATO, os aparelhos russos não tinham apresentado planos de voo, não estabeleceram qualquer contacto com as autoridades de aviação civil e não corresponderam às comunicações, o que “representa um risco potencial para os voos civis”.

Além destes oito aparelhos, foram ainda controladas quatro aeronaves russas numa operação conduzida pela Força Aérea turca sobre o mar Negro, incluindo dois bombardeiros Tupolev-95, disse a NATO. Caças alemães também intervieram na terça-feira, para controlar um grupo de sete aviões de combate russos em manobras sobre o mar Báltico. Ou seja, nos últimos dois dias, foram intercetadas 19 aeronaves russas.

À descoberta dos pontos fracos da Aliança Atlântica?

O comentador da SIC e especialista em relações internacionais, Nuno Rogeiro disse esta quarta-feira que estas manobras estão relacionadas “com as tensões derivadas do conflito na Ucrânia”. “É uma consequência desse conflito e uma tentativa de descobrir onde estão os pontos fracos e fortes da Aliança Atlântica”, rematou.

Também José Milhazes, jornalista português a viver na Rússia, e colunista do Observador, disse em declarações à mesma estação televisiva que “o Ministério da Defesa da Rússia reafirmou que os aviões da sua Força Aérea cumprem todas as normas internacionais e utilizam o espaço aéreo sobre as águas neutras”.