São dentes humanos e têm entre 60 mil e 120 mil anos, mas as certezas acabam por aqui. Os dentes dos quatro indivíduos e o osso da cara de uma criança descobertos em 2013 deixaram os investigadores intrigados por misturarem características do homem moderno com o homem primitivo. No estudo agora publicado na revista científica American Journal of Physical Anthropology os autores definem esta população do norte da China como pertencendo a uma “classificação taxonómica incerta”.

Durante uma parte do Pleistoceno, entre 340 mil e 90 mil anos, os homens de Neandertal (Homo neanderthalensis) ocupavam a Europa e a Ásia ocidental, enquanto o homem anatomicamente moderno (Homo sapiens) se encontrava em África, refere o artigo científico. “[Nestes ossos] não há correspondência nem com um humano moderno, nem com um neandertal, que são as espécies humanas que habitavam a Terra durante esse período, nem com o Homo erectus clássico, que é a espécie que sabemos que habitou a Ásia [anteriormente],” explica uma das autoras do estudo María Martinón-Torres, responsável pela investigação em antropologia dentária no Centro Nacional de Investigação sobre a Evolução Humana.

Os ossos encontrados no sítio arqueológico de Xujiayao, no norte da China, poderiam sugerir que se tratava de uma espécie nova, mas com um registo fóssil tão escasso a equipa, que inclui também investigadores da Academia Chinesa de Ciências, prefere ser mais cautelosa, refere El País. Os dentes encontrados não apresentam características de homem moderno, mas mais uma mistura de neandertal e Homo erectus. Curioso é que o Homo erectus, uma espécie que se espalhou pela Europa e Ásia há quase dois milhões de anos, se terá extinguido há cerca de 140 mil anos – muito antes dos indivíduos agora descobertos terem aparecido. Seria esta uma linha de Homo erectus, diferente da espécie original, que não se extinguiu? Não se sabe.

Outra possibilidade é que os restos de Xujiayao possam ser de denisovanos, uma espécie descoberta em Denisova, nos montes Altai, na Sibéria, e classificada com base na análise genética, na falange e nos dois dentes molares encontrados. Mas para ter a certeza de que os restos de Denisova e Xujiayao pertencem à mesma espécie, era preciso comparar o material genético, o que nem sempre é fácil quando se trata de fósseis – o ADN degrada-se facilmente ao longo do tempo.

Os restos do ouvido interno analisados apresentam tanto características primitivas como de neandertal, concluiu Erik Trinkaus, investigador no Departamento de Antropologia da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, que não esteve envolvido na publicação do artigo. Os indivíduos que mostram uma mistura de traços entre as espécies de humanos que existiram na época – homem moderno, neandertal, denisovanos e Homo erectus – não têm de pertencer necessariamente a uma espécie nova, mas podem significar que as espécies acasalaram entre si originando descendência fértil.

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