É o mais recente episódio da polémica sobre se Cavaco Silva deve ou não condecorar José Sócrates pelas suas funções enquanto primeiro-ministro. Augusto Santos Silva, sociólogo e ex-ministro socialista dos governos de Sócrates, manifestou a sua opinião sobre esta situação no Facebook e, com muita ironia, fez um apelo no sentido inverso dos seus colegas socialistas: “Senhor Presidente, não condecore Sócrates. Ele não merece tamanha nódoa no seu currículo”.
Começando por dizer, novamente com ironia, que se tratava “finalmente” de uma “divergência seriíssima entre os socialistas”, o ex-ministro de Sócrates quis dizer que, nesta matéria, estava contra Ascenso Simões, que escreveu esta semana uma carta a Cavaco Silva a pedir que agraciasse Sócrates com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, procedimento que, não sendo obrigatório, tem sido tradição em Belém em relação aos ex-primeiros-ministros.
E Santos Silva diz que está tão em desacordo com a ideia de Cavaco Silva medalhar José Sócrates que até se propõe a dirigir também uma mensagem ao Presidente: “Senhor Presidente, não dê ouvidos a Ascenso. Não se deixe pressionar. Não condecore Sócrates. É que ele não merece tamanha nódoa no seu currículo”. Nódoa, leia-se, ser agraciado por Cavaco Silva. E ainda continua: “Haverá certamente, dentro em breve, um Presidente merecedor da honra de condecorá-lo”, referindo-se ao facto de em 2016 terminar o último mandato do atual Presidente, que poderá ou não ser sucedido por um nome socialista. Tudo indica que se esteja a referir ao eventual candidato do PS, António Guterres.
Ideia semelhante já tinha sido ensaiada pelos também ex-ministros Luís Capoulas dos Santos e Correia de Campos, que tinham suscitado a dúvida, em declarações ao jornal i, sobre se o próprio Sócrates quereria ser agraciado pelo atual Presidente, com quem teve divergências conhecidas no tempo em que esteve no Governo. “Não sei se o condecorável foi sondado e se quereria”, dizia Correia de Campos.
Manuel Alegre e Ascenso Simões foram dois dos nomes que entraram no debate para mostrarem indignação pelo facto de o socialista ser o único ex-primeiro-ministro a não ter recebido a tradicional medalha pós-exercício de funções de soberania. Ao Observador, Alegre tinha dito mesmo que Cavaco só não o fez por “questões pessoais”, e que as questões institucionais deviam ir para lá dessas divergências. Até “já condecorou, e bem, um primeiro-ministro de que não gostava e que até classificou de má moeda: Pedro Santana Lopes”, lembrou o histórico socialista ao Observador.
A verdade é que Santana Lopes foi mesmo o ex-líder do Executivo que mais tempo demorou a ser condecorado: Cavaco demorou mais de quatro anos para o fazer. Sócrates deixou o Governo em março de 2011, portanto há mais de três anos, e se Cavaco não o medalhar dentro do seu mandato presidencial, baterá o recorde de Santana.
Durão Barroso é um caso de exceção. Já tinha sido agraciado com um grau desta ordem honorífica em 1996 pelas funções diplomáticas que exerceu enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, mas nunca chegou a receber a condecoração depois de ter sido chefe do Governo. Mas também essa já tem data marcada: será agraciado na segunda-feira pelo Presidente da República, em Belém, pelo trabalho que desenvolveu nos últimos dez anos em Bruxelas como presidente da Comissão Europeia.