Os CTT decidiram avançar com o Banco Postal, quase um ano depois de ter sido concedida a licença por parte do Banco de Portugal e dois meses depois do colapso do terceiro maior banco português, o BES (Banco Espírito Santo).

O projeto terá como mercado alvo os atuais clientes dos serviços financeiros vendidos aos balcões dos correios, com destaque para os certificados de aforro e tesouro. A estratégia assenta numa lógica de baixo custo para consumidores de massa de rendimento médio e baixo. A oferta de crédito à habitação é uma das apostas do Banco Postal.

“Existe uma oportunidade clara de mercado para lançar um banco dirigido a uma população financeiramente conservadora de rendimentos médios/baixos”.

A decisão de avançar resulta da constatação de “que existe uma oportunidade clara de mercado para lançar um banco dirigido a uma população financeiramente conservadora de rendimentos médios/baixos”. Para tal, a empresa de correios conta com uma vasta rede de estações, forte presença no segmento de produtos financeiros e ainda uma imagem de confiança, recentemente confirmada num estudo pedido a uma entidade independente.

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A empresa liderada por Francisco Lacerda admite mesmo fazer aquisições para apoiar o projeto, o que pode passar pela compra de um banco de pequena dimensão. “A aquisição de um pequeno banco com uma rede de retalho muito reduzida ou inexistente poderá ser equacionada ou outras soluções igualmente enquadráveis”.

Os CTT querem limitar o investimento em capital a 85 milhões de euros em três anos, admitindo chegar aos 100 milhões de euros e cinco anos. O objetivo é que a nova instituição financeira tenha um retorno positivo a partir do terceiro ano de atividade, podendo distribuir dividendos a partir do sexto ano. Os estudos concluem que o risco de capital será baixo, uma vez que a oferta de crédito será focada no segmento hipotecário (crédito à habitação).

A execução ainda depende da autorização do projeto atualizado submetido ao Banco de Portugal. A licença para lançar o Banco Postal terminava no final do ano. Esta licença foi concedida antes do governo avançar com a privatização dos CTT há precisamente um ano. No entanto, o projeto existe dentro da empresa há quase 20 anos.

Desde setembro, quando ficou concluída a privatização, que os CTT são uma empresa totalmente privada com uma dispersão de capital (freefloat) que atinge 100%. Isto significa que não há acionistas de referência ou estratégicos, mas apenas financeiros.

Banca e comercio eletrónico para compensar queda do mercado tradicional

A expansão na banca de retalho é uma das apostas da gestão dos CTT para compensar a queda do seu mercado tradicional. Nos primeiros nove meses do ano, o tráfego de correio caiu 4,9%, a queda foi contudo mais atenuada no terceiro trimestre.

Os serviços financeiros cresceram 30% nos primeiros nove meses do ano, captando 3800 milhões de euros de poupanças. Para este resultado, contribuiu o crescimento de subscrições de dívida pública, mas também o lançamento de novos PPR e a parceria com o BNP Paribas para comercializar crédito pessoal.

Outro dos eixos da estratégia dos CTT é o comércio eletrónico como alavanca para o tráfego de encomendas que, em conjunto com o correio expresso, cresceu 8%. A empresa criou uma área E-Commerce que pretende servir o mercado ibérico.

A empresa de correios registou um crescimento nos rendimentos operacionais de 2,1% para 527,9 milhões de euros, contrariando a tendência de queda dos últimos cinco anos. O lucro cresceu 16,5% até setembro, fixando-se em 52,6 milhões de euros.