Partido. Quebrado. Corridas a mil. Ataques a contra-atacarem-se a si próprios. Rotação e mais rotação. As equipas encostadas às grandes áreas e alérgicas a pisarem a relva que estava a meio do campo. Típico retrato de um 0-0 cansado que, de repente, se torna frenético e manda o motor farejar e queimar as últimas gotas de combustível em busca de um golo. Retrato de um jogo a piscar o olho ao minuto 90? Nada disso. Foi antes o primeiro quarto de hora em que, na Luz, era suposto o motor estar a aquecer.
Mas pelos vistos veio bem quente do balneário. A noite, afinal, ficara encalorada pelas circunstâncias — horas antes, em Leverkusen, o Bayer vencera (2-1) o Zenit de André Villas-Boas, e encurtara o prazo para o Benfica levar a máquina à inspeção. Ou seja, se perdesse com o Mónaco, os encarnados ficariam sem hipótese de seguiram para os ‘oitavos’ e teriam de encostar a viatura na garagem. O arranque, por isso, foi daqueles que deixou a marca dos pneus na pista.
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Gaitán não parava de sprintar e pedir a bola. Samaris e Enzo afastavam-se da defesa e pressionavam lá em cima. Salvio ligava o turbo e desdobrava-se em dribles. E Derley servia de parede para os outros tabelarem. Quando tudo isto se juntava, a equipa tentava trocar a bola, pela relva, a alta velocidade e com passes ao primeiro toque. Era difícil de acertar e dar uma volta à pista assim. Claro. Mas quando dava, resultava. E bem. Logo aos 4’, uma destas jogadas terminou num remate frouxo e fraco de Gaitán, que parou nas mãos de Subasic, guarda-redes do AS Monaco.
Um contra-ataque frenético, no minuto seguinte, acabou com a canhota de Talisca a soltar a bola para Salvio que, na área, rematou a bola para ela sair rasteira e ao lado da baliza. Com 12 minutos contados, foi de novo Gaitán a rematar, quando um ressalto lhe levou a bola até ao pé esquerdo. Mas outra vez o pontapé saiu frouxo e aos soluços. E soluçar foi o que o motor começou a fazer ao fim dos tais 15 minutos, em que tanta correria e pressão acabou por se ir notando no ritmo. E aí os monegascos começaram a aparecer, embora ainda apanhassem com a poeira por estarem a perseguir o ritmo do Benfica.
Mesmo assim, iam ameaçando. Ocampos e Ferreira-Carrasco, mais este, o belga com nome aportuguesado, começaram a chatear Maxi e André Almeida. Os laterais do Benfica, quase sempre sem ajuda, eram apanhados uma e outra vez a lutarem, sozinhos, contra os extremos do Monaco. Aos 23’, um cruzamento do belga, na direita, só não fez a bola chegar a Lacina Traoré — ou aos 2,01 metros de avançado vindos Costa do Marfim — porque Júlio César se esticou para dar uma patada na bola. Depois, aos 39’, um livre pôs a bola na cabeça de Kurzawa que, mesmo em fora de jogo, cabeceou para, de novo, o guardião do Benfica defender.
O intervalo chegou depois de outra jogada acelerada ver Talisca abrir as pernas, dar via verde a um passe de Maxi e deixar a bola chegar a Gaitán. Na área, o argentino quis simular, ameaçar o pontapé e, quando de facto rematou, o central Raggi foi a tempo de tocar na bola e desviá-la por cima da baliza. Depois vieram 15 minutos de descanso para deixar o motor em ponto morto. O problema é que o desligou. E deixou-o arrefecer.
O ritmo não foi o mesmo na segunda parte. Nem a organização. As pernas já não davam para tantos arranques e tão pouco para Gaitán e Salvio recuarem para passarem a ajudar os laterais. De Enzo já se via pouco e Samaris não podia, ao mesmo tempo, ajudar os centrais a lidarem com Traoré e ir às alas tapar o caminho para o meio aos extremos monegascos. Moral deste parágrafo: o motor do Benfica, agora sim, começou a gripar.
E o Monaco largou a cautela à moda de Leonardo Jardim, que montou uma equipa calculista, paciente e organizada. A mesma que começou a sair da toca. Aos 48’ foi Kurzawa, agora sem fora de jogo, a saltar a uma bola e a rematá-la pouco ao lado da baliza de Júlio César. Depois foi Traoré, o gigantão, a receber duas bolas na frente e a ter tempo para as ajeitar no pé esquerdo e rematar: uma rasou o poste esquerdo, a outra foi defendida por Júlio César. Pelo meio, aos 59’, Ferreira-Carrasco fintou André Almeida e Jardel para, depois, ver o guardião brasileiro fechar-lhe a porta e travar o carro à frente do seu remate.
O carro do Monaco ia acelerando e já se colocava lado-a-lado com o do Benfica, que ia abrandando. Aos 53’, um belo remate de Talisca, em arco e desde fora da área, ainda deixou Subasic brilhar na baliza francesa. De resto, só umas quantas correrias de Salvio iam abafando os passes curtos que a equipa, teimosa, ia falhando cada vez que se tentava aproximar mais da área do Monaco. A solução, agora, eram os cruzamentos pelo ar. Foi assim que, 65’, Lima recebeu uma bola que não quis rematar de primeira — dominou-a e pontapeou-a contra um defesa. E que, aos 76’, Jardel apanhou outra bola e, ao invés de rematar, tentou passá-la a Lima.
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Nada feito. O golo não aparecia e a máquina entrava na reserva. O combustível já era pouco e quase insuficiente para manter o motor quente. À falta de temperatura, já nem dava para acelerar. Energia já havia pouca e o perigo, a aparecer, teria que vir de um livre ou um canto. Nem mais. Aos 82’, e após Ricardo Carvalho cortar uma bola na área, Gaitán bateu um canto, Derley tocou na bola e, ao segundo poste, apareceu Anderson a desviar. Sim, o Talisca, o canhoto brasileiro que, após oito golos feitos no campeonato, se estreou a marcar na Champions para dar a primeira vitória ao Benfica. 1-0, e o resultado já não mudaria.
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A reserva, a do Benfica, chegaria para aguentar. E a do Monaco nem deu para reagir. O árbitro apitou três vezes e c’est fini. Vitória para o Benfica e quatro pontos feitos na Liga dos Campeões. Logo ali era preciso fazer contas. Com este resultado, os encarnados com os mesmos pontos que o Zenit e com menos um que os cinco do Monaco. O Bayer é líder e vai com nove. Ou seja, agora sim, o Benfica só fica a depender de si. E mais, pois conseguiu uma obra — ser a primeira equipa a marcar um golo ao Monaco de Jardim.
E obra é o que Talisca também está a lapidar. Foi a nona vez nos últimos dez jogos que o Benfica teve um golo marcado pelo novato (20 anos), magricela e alto brasileiro. É muito golo, muita bola a acabar nas balizas depois de tocar na canhota deste Anderson. O tal que ainda perde muitas bolas, pouco defende e ainda não se habituou a pouco tempo ter para pensar e executar o que lhe vai na cabeça. Sim, mas marca. Os golos aparecem aos montes. E este foi à bomba buscar gasolina quando o Benfica já parecia estar a encostar o carro à berma na auto-estrada da Champions.