Manuela Ferreira Leite, antiga líder do PSD e comentadora na TVI24, disse esta quinta-feira no programa “Política Mesmo” que a descida da taxa de desemprego não está relacionada com as políticas do Governo. “Acho extremamente positivo que as taxas do desemprego melhorem. Mesmo que as pessoas não estejam bem, não estão tão mal. Aquilo que tenho dificuldade em considerar é que esses valores resultem da política que tem estado a ser seguida”, afirmou.
Ferreira Leite considera que uma das razões que levaram à quebra no desemprego foi a nova legislação laboral. E não só: “Há aspetos que não contam para o desemprego, como o subemprego, por exemplo, que são aquelas pessoas que trabalham poucas horas e gostariam de trabalhar mais, mas não conseguem. Também não contam aquelas pessoas que já desistiram de procurar emprego. Da mesma forma que não contam os estágios profissionais e os chamados contratos de inserção, pagos por fundos europeus”, considerou.
Quanto às divergências nas previsões do Governo e das instituições europeias para 2015, Manuela Ferreira Leite considera-as normais. “Estão a confessar publicamente que a austeridade exclusiva, no sentido que o défice se resolve através da receita ou da redução da despesa, deu o que tinha a dar”, começou por dizer sobre o tema. “Também se percebe que essas duas variáveis não podem variar muito no Orçamento do Estado. Será possível aumentar mais os impostos? Qualquer pessoa dirá que não.”
A antiga ministra das Finanças refletiu então sobre as duas variáveis. Como aumentar a receita? “Com combate à evasão fiscal, sim senhor, mas tem limite”. E quanto à redução da despesa? “Só alterando radicalmente os subsídios, apoios sociais, segurança social, saúde, educação… quando são eles próprios — OCDE e UNESCO — que fazem análises sobre a recente pobreza em Portugal”, disse, explicando que a solução passa “pela via do crescimento”. Ferreira Leite foi mais longe e admitiu que “margem para aumentar impostos existe sempre, mas isso significa aumentar a pobreza e a recessão acentuada.”
“Eu acredito no mercado, mas não acredito na sacralização do mesmo”
A PT foi o assunto que fechou o programa. Ferreira Leite criticou quem vilipendiou o documento assinado por 14 personalidades para pedir ao Governo e “aos órgãos de soberania” o “resgate da PT” e rematou afirmando que acredita no mercado, embora não na “sacralização” do mesmo.
“A PT já foi pública e enquanto foi pública fizeram-se imensas tropelias e todos sabemos isso, ninguém pode negar. Quando passou a privada também foi mau. Quando há interesse ou pouca ética nas empresas, seja público ou privado, leva ao descalabro.”
A comentadora explicou ainda a dimensão da empresa, mas “nada” defende sobre o tema. “Basta olhar para os números para perceber como a PT é importante para o país. O volume das receitas é 2% do PIB, o investimento é 3% do investimento nacional, o número de funcionários é elevadíssimo”, assim introduziu a temática. “Eu não defendo nada. Limito-me a perguntar: ‘A PT é importante ou não para o país?'” E deu o exemplo do BES, por ser privado e ter feito mossa na economia nacional.
“Eu acredito no mercado, mas não acredito na sacralização do mesmo. O mercado falha e quando falha é bom que haja instituições públicas para corrigir o que falhou”, rematou.