O antigo líder da União Soviética tinha deixado o aviso há dois dias, em Berlim: “O mundo está à beira de uma nova Guerra Fria”. Agora, um relatório da European Leadership Network, um ‘think tank’ sediado em Londres, revelou a existência de cerca de 40 incidentes diplomáticos “perigosos” ou “sensíveis” que tiveram lugar desde o início da crise na Ucrânia e que elevaram o clima de tensão entre a Rússia e o Ocidente para níveis equivalentes aos vividos durante a Guerra Fria.

O documento, intitulado Dangerous Brinkmanship, ao qual o The Guardian teve acesso, destaca, entre os 40 episódios desta crise diplomática entre a Rússia e o Ocidente, uma quase colisão entre um avião de reconhecimento russo e um avião que tinha partido da Dinamarca com cerca de 132 passageiros. O caso ganha contornos ainda mais graves porque o avião russo em questão não emitiu nenhum sinal de identificação, impossibilitando o reconhecimento da aeronave nos radares do avião de passageiros. Esta terá sido a situação mais perigosa envolvendo forças do Kremlin e países da aliança ocidental – a tragédia esteve iminente.

As intenções de Vladimir Putin continuam por descortinar: é uma ameaça séria de guerra ou está só a testar a capacidade de reação das forças da NATO em caso de conflito? Putin deve ser levado a sério ou está a fazer bluff? Os autores do relatório consideram “que o objetivo da Rússia não é iniciar um conflito global, mas acreditam que os russos estão a jogar um jogo perigoso” e que o perigo de acontecer uma retaliação ocidental é bem real.

“Acreditamos que os cerca de 40 incidentes registados são um desenvolvimento muito sério, não necessariamente porque indicam um desejo por parte da Rússia de iniciar uma guerra, mas porque eles mostram que se está a jogar um perigoso jogo de malabarismo político, com o potencial de escalada involuntária, que está a conduzir à mais grave crise de segurança na Europa desde a Guerra Fria “, sublinham os autores do documento, Thomas Frear, Lukasz Kulesa e Ian Kearns.

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Desde o início da crise na Ucrânia, os russos têm testado a capacidade de resposta das forças da aliança ocidental, contando-se, entre os episódios mais perigosos, o rapto de um agente dos serviços secretos estónios; uma simulação de uma missão de bombardeamento, em que aviões russos sobrevoaram uma ilha dinamarquesa; outra simulação de raide aéreo em que os aviões do Kremlin testaram as fronteiras dos Estados Unidos e do Canadá; e a aterragem forçada de um avião de origem norte-americana na Suécia, depois de ter sido perseguido por caças da Rússia.

Os autores do documento exortam o líder russo, Vladimir Putin, a repensar seriamente “os custos e os riscos de continuar com a sua postura militar tão assertiva”, pedindo também às forças da NATO que procurem refrear o conflito iminente.

As notícias sobre as incursões de aviões russos no espaço aéreo dos países da aliança, ou nas redondezas, sucedem-se e o clima de tensão parece encontrar-se numa curva ascendente. O ex-vice-comandante da NATO na Europa, o general britânico John McColl, considera mesmo que um eventual episódio de violência não é uma questão de saber se vai acontecer, mas de quando.

“O potencial de erro e de escalada [do conflito] são claros e extremamente perigosos; mais que uma questão de se, é uma questão de quando” vai acontecer uma resposta violenta dos russos ou dos aliados ocidentais às ações militares de uns e de outros, afirmou McColl ao jornal The Guardian.