Questionado pelos jornalistas sobre qual a torre onde foram já detetadas bactérias semelhantes às encontradas nas pessoas infetadas, desta vez, o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, não se chegou à frente. Acabaria por ser o ministro da saúde, Paulo Macedo, a afirmar, na tarde desta sexta-feira, que há ainda mais probabilidades de o foco do surto da Legionella estar numa torre de refrigeração da Adubos de Portugal Fertilizantes (ADP).

Neste momento, há uma “probabilidade ainda mais forte daquela torre ter exatamente uma coincidência com o serótipo de Legionella que existe nas pessoas”, revelou Paulo Macedo, no encontro que reuniu, no Ministério da Saúde, os especialistas que têm vindo a estudar o surto da Legionella e que apresentou os resultados dos vários estudos epidemiológicos feitos.

E “aquela torre” é a torre de uma empresa onde “havia uma forte indicação de que podia ser o principal foco” do surto. De lembrar que na terça-feira o ministro do ambiente, Jorge Moreira da Silva, apontou a Adubos de Portugal como devendo ser o principal foco do problema.

Paulo Macedo recusou-se porém a apontar um culpado e disse ser importante esperar pelos resultados das análises que ainda estão em cultura.

Última inspeção da IGAMAOT à Adubos de Portugal foi em 2012

Em resposta a uma questão colocada pelo Observador, o inspetor-geral do ambiente, Nuno Banza, revelou que a última inspeção feita pela Inspeção-geral do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) à Adubos de Portugal, Fertilizantes foi feita em 2012 e “não havia nenhum incumprimento legal”. Essa inspeção à ADP por parte da IGAMAOT ocorre de três em três anos.

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O inspetor-geral explicou ainda que em 2013 e já este ano a ADP enviou também à Agência Portuguesa do Ambiente relatórios ambientais relativos a 2012 e 2013, respetivamente, onde deve reportar todas as situações relevantes e que “a Agência não nos [à IGAMAOT] reportou nenhuma situação de incumprimento”.

Mais três empresas foram alvo de inspeções

O diretor geral de saúde revelou ainda esta esta sexta-feira que foram alvo de inspeções extraordinárias “mais três empresas”, no âmbito do surto da Legionella, mas nenhum dos presentes no encontro quis revelar o nome dessas empresas, justificando-se com o segredo de justiça a que estão agora obrigados pelo facto de o Ministério Público ter aberto um inquérito sobre o surto.

Até aqui só tinha sido anunciada, pelo ministro do ambiente, uma inspeção extraordinária à Adubos de Portugal, na terça-feira. E também a Solvay e a Central de Cervejas foram obrigadas a encerrar torres de arrefecimento no passado fim de semana. As autoridades têm vindo a dizer que o encerramento destas torres permitiu travar o surto pois a fonte do problema está precisamente nas torres de arrefecimento. Daí que agora cause alguma curiosidade o anúncio destas inspeções a três novas empresas, que o inspetor-geral do ambiente designou como “extensão do princípio da precaução”.

Condições meteorológicas potenciaram o impacto do surto

Os especialistas apontaram ainda para “um contexto de conjugação rara de fatores ambientais” que “explica a magnitude do surto”. Além da “elevada concentração de bactérias e emissão de aerossóis, em torres de arrefecimento de grandes dimensões”, no período de cerca de duas semanas, houve uma “elevada concentração de partículas finas na atmosfera oriundas do deserto do Sahara” e “condições de perfil vertical de temperatura estável, vento muito fraco de nordeste [ao contrário do que é habitual] com humidade relativa elevada e grande estabilidade, particularmente durante a noite”.

Porém, e apesar das condições climatéricas terem ajudado a propagar este surto, “em nenhum momento isso reduz a responsabilidade que as empresas têm de reduzir a presença da bactéria” nas torres de refrigeração, afirmou o ministro Jorge Moreira da Silva.

O surto de Legionella ja afetou 311 pessoas, a maioria do sexo masculino, sete das quais morreram e mais de 50 já tiveram alta. O ministro da Saúde, elogiando o trabalho desenvolvido por todos os especialistas envolvidos na taskforce criada, adiantou ainda que espera “na segunda-feira ter mais de 100 pessoas com alta”.

A média de idades das pessoas infetadas é de 58 anos, tendo a pessoa mais nova 22 anos e a mais velha 92.