Só tinha 60 horas para conseguir cumprir a primeira fase da missão: recolher dados e recarregar baterias. A segunda parte falhou, mas dentro do tempo de vida das baterias o módulo Philae conseguiu ativar os dez instrumentos que tinha a bordo e recolher amostras e dados que os cientistas se encontram agora a analisar. Além de ter descoberto compostos orgânicos à superfície, os instrumentos do Philae indicam que por baixo da camada de pó existe uma camada compacta de gelo.

O módulo Philae que pousou no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko não conseguiu fixar-se no primeiro local de impacto, mas os cientistas ainda não conseguiram explicar porquê. Assim que pousou na superfície do cometa o módulo deveria ter disparado dois arpões que lhe permitiriam manter-se fixo ao astro que exerce uma força gravítica muito fraca. Além disso, os arpões continham uma parte do equipamento Mupus (Multi-Purpose Sensors for Surface and Subsurface Science), responsável por recolher dados à superfície e abaixo da superfície, como a temperatura e a aceleração do cometa.

ESA_Rosetta_Philae_MUPUS_ESA-ATG medialab

O equipamento Mupus destacado no módulo Philae – ESA/ATG medialab

Embora estes dados não tenham sido recolhidos, a parte do equipamento Mupus que se encontrava no corpo do Philae conseguiu registar dados de temperatura durante a descida desde a sonda Rosetta até ao cometa e durante as três “aterragens”. Assim que se estabeleceu no último local, o Mupus registou uma temperatura de 153º C negativos, que se tornou 10º C mais baixa meia hora depois.

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Quando o módulo tentou perfurar a superfície não conseguiu ir além de uns poucos milimetros apesar de nesse momento ainda estar em pleno funcionamento. “Se compararmos os dados obtidos com as medições em laboratório, pensamos que a sonda encontrou uma superfície dura com força comparável à do gelo sólido”, disse Tilman Spohn, investigador principal do equipamento Mupus. Os dados recolhidos nesta missão permitem até ao  momento perceber que a camada mais superficial do cometa (10 a 20 centímetros) consiste de poeiras, à qual se segue uma camada compacta de gelo (ou de gelo misturado com poeiras), mas que o núcleo seja mais poroso para justificar a baixa densidade.

À medida que se for aproximando do Sol, prevê-se que o gelo vá derretendo e que seja possível obter mais informações sobre o cometa. Quando ainda estava a 580 milhões de quilómetros do Sol o cometa já perdia 300 mililitros de água por segundo (18 litros a cada minuto). “A este ritmo, o cometa poderia encher uma piscina olímpica em cerca de 100 dias. Mas à medida que fica mais perto do sol, a taxa de produção de gás irá aumentar significativamente”, disse na altura Samuel Gulkis, investigador principal no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (agência espacial norte-americana), na Califórnia (Estados Unidos).

Outro dos equipamentos que deveria perfurar a superfície do cometa 67P era o SD2 (Sampling, Drilling and Distribution). Apesar de ter descido 56 centímetros do ponto de referência ainda não foi possível confirmar se perfurou a superfície ou se pelo contrário deslocou o módulo Philae. De qualquer forma o Cosac (Cometary Sampling and Composition experiment), responsável por detetar e analisar gases à superfície, foi capaz de “cheirar” a atmosfera durante a “aterragem” e encontrar compostos orgânicos, que os investigadores ainda estão a tentar identificar. Já no final de outubro a sonda Rosetta tinha sinalizado que o cometa “cheirava” a ovos podres – sulfureto de hidrogénio.

Mesmo com o Philae adormecido, à espera que os painéis captem energia solar suficiente para recarregar as baterias, a sonda Rosetta continuará a missão até ao final de 2015, seguindo e orbitando o cometa.