Esta sexta-feira à noite, o módulo Philae desligou todos os equipamentos para poder dedicar a energia que lhe sobrava à comunicações com a sonda Rosetta. Depois de cerca de 57 horas na superfície do cometa, a 511 milhões de quilómetros da Terra, Philae cumpriu a primeira fase da missão científica que lhe tinha sido confiada e conseguiu enviar todos os dados para a Rosetta, que faz a comunicação com o centro de comando na Terra. O local de “aterragem” desfavorável impede o módulo de carregar as baterias com energia solar, essenciais para continuar a recolher dados e realizar comunicações. Philae entrou assim em “hibernação”.
Na noite de quinta para sexta-feira, durante as breves horas em que o módulo Philae conseguiu comunicar com a Terra por intermédio da sonda Rosetta, alguns equipamentos foram ativados, confirmou durante a conferência de imprensa de sexta-feira Stefan Ulamec, controlador do módulo na agência espacial alemã DLR. Em funcionamento estão o Mupus (Multi-Purpose Sensors for Surface and Sub-Surface Science), que vai perfurar a superfície para testar as características térmicas e mecânicas, e APXS (Alpha Proton X-ray Spectrometer), que irá analisar a composição química à superfície. Por precaução os arpões não foram lançados – embora pudessem confirmar mais estabilidade ao Philae também poderiam ejectá-lo ou gastar demasiada energia.
Back to work! I’m now drilling into the surface of #67P… I’ll give you updates as soon as I can! #CometLanding
— Philae Lander (@Philae2014) November 14, 2014
De volta ao trabalho! Estou a perfurar a superfície do #67P… Vou dando novidades assim que que possível!
A energia é um dos bens mais precioso na superfície do cometa. O Philae “aterrou” com baterias capazes de aguentar 60 horas, contando que depois poderia recarregá-las com energia solar. O problema é que, depois dos dois saltos que o afastaram do local de “aterragem” inicialmente previsto, o módulo acabou por ficar preso num “buraco”, ou assim pensam os cientistas, onde, em vez das seis ou sete horas de luz solar inicialmente previstas, recebe apenas uma hora e vinte minutos num dos painéis solares e 20 a 30 minutos nos outros dois painéis. Muito pouco para garantir a missão científica a que se destinava.
So much hard work.. getting tired… my battery voltage is approaching the limit soon now pic.twitter.com/GHl4B8NPzm
— Philae Lander (@Philae2014) November 14, 2014
Tanto trabalho árduo… estou a ficar cansado… a voltagem da minha bateria vai aproximar do limite em breve
Para tentar descobrir onde está pousado o Philae novas medidas foram obtidas pelo equipamento Consert (Comet Nucleus Sounding Experiment by Radio-wave Transmission), operado tanto pelo módulo como pela sonda Rosetta. A bordo da sonda outros dois equipamentos – o sistema de imagem OSIRIS e a câmara de navegação NavCam – continuam à procura do Philae. Para facilitar a busca, a posição da sonda e, consequentemente, a órbita foram reajustadas, revelou em conferência de imprensa Andrea Accomazzo, diretor de voo da Rosetta no Centro Europeu de Operações Espaciais (ESOC). “A Rosetta está a funcionar muito bem”, acrescentou.
I confirm that my @RosettaSD2 went all the way DOWN and UP again!! First comet drilling is a fact! :) pic.twitter.com/eE3xL8CGk0
— Philae Lander (@Philae2014) November 14, 2014
Confirmo que o [equipamento] RosettaSD2 desceu e subiu!! A primeira perfuração de um cometa é um facto!
As expectativas estavam colocadas nas comunicações que se poderiam estabelecer antes do módulo “adormecer”. “Antes de adormecer, o módulo conseguiu transmitir todos os dados científicos recolhidos durante a Primeira Sequência Científica”, disse Stephan Ulamec na sala de controlo do ESOC, na noite de sexta-feira. As amostras recolhidas pelo Mupus depois de perfurar 25 centímetros da superfície do cometa seriam analisadas pelo Cosac (Cometary Sampling and Composition), fornecendo informação sobre presença de compostos orgânicos. As últimas horas do Philae foram passadas a enviar dados para sonda Rosetta que por sua vez os encaminhou para a Terra. Os cientistas ainda estão a trabalhar sobre os dados recebidos.
Download link remains nominal despite v. low power. Waiting to receive #CONCERT data #cometlanding pic.twitter.com/adnSejhG8J
— ESA Operations (@esaoperations) November 15, 2014
(A informação continua a chegar ao centro de controlo, apesar da pouca energia no Philae.)
Numa última tentativa de manter o Philae acordado durante mais tempo, os controladores em Terra conseguiram rodá-lo 35º para que possa receber mais luz solar. “A rotação do módulo de ‘aterragem’ pode resultar em mais energia se o painel solar maior conseguir captar a iluminação que está a cair sobre o mais pequeno”, disse Mark McCaughrean, conselheiro científico da ESA. Por agora o Philae vai “hibernar”, mas os cientistas esperam que à medida que o cometa se aproxime do Sol os painéis recebam mais energia e que as comunicações possam ser restabelecidas.
Also my rotation was successful (35 degrees). Looks like a whole new comet from this angle:)
— Philae Lander (@Philae2014) November 14, 2014
A minha rotação também foi bem-sucedida (35 graus). Parece um novo cometa visto deste ângulo
Apesar do desfecho inesperado e do sono precoce do módulo Philae, os cientistas da ESA estão satisfeitos com os resultados obtidos até agora – é a primeira vez que um engenho criado pelo homem pousa num cometa. “Foi um sucesso enorme, toda a equipa está satisfeita”, disse Stephan Ulamec. Uma opinião partilhada por Matt Taylor, cientista da ESA também envolvido na missão Rosetta: “Os dados recolhidos pelo Philae e Rosetta vão fazer com que esta missão provoque uma mudança na investigação de cometas”.
Os cientistas notam ainda que a missão da sonda Rosetta, que durará até final de 2015, não está comprometida. Uma missão que representa mais um feito notável – a primeira vez que o homem consegue colocar uma nave a orbitar um cometa. Mesmo os especialistas da agência espacial norte-americana NASA, Jeff Grossman e Gordon Johnston, confessam estar a aprender com esta missão e com os bons resultados conseguidos. A NASA planeia estudar um asteroide, com recolha de amostra, num futuro próximo.
“No final desta semana incrível, olhamos para trás e vemos a primeira ‘aterragem’ suave num cometa. Este foi um momento verdadeiramente histórico para a ESA e para os seus parceiros. Agora esperamos muitos mais meses de ciência emocionante com a Rosetta e, possivelmente, um retorno do Philae da hibernação em algum momento”, finalizou Fred Jansen, gestor da missão Rosetta na ESA.