O líder parlamentar do BE defende que os coordenadores do partido não souberam interpretar a realidade nos últimos dois anos e que a “participação recorde” na eleição de delegados à Convenção corresponde à “vontade de mudança” dos aderentes.
“Eu creio que o BE ficou um pouco refém deste debate das alianças, sem perceber que a sua grande aliança é com o povo, com aquelas e aqueles que sentem na pele estas políticas”, afirmou, em entrevista à Lusa, Pedro Filipe Soares, que encabeça a moção “Bloco plural” e disputa a coordenação do partido com João Semedo e Catarina Martins, que apresentam a “Moção unitária em construção”.
O dirigente bloquista, candidato autárquico pela primeira vez em 2001 e eleito deputado em 2009, considera que o partido precisa de “uma nova abertura à sociedade”, já que “se tem alheado da cidadania e colocado mais num patamar de relacionamento partidário”.
“O BE quando cresceu foi quando falou para as pessoas, e quando colocou as suas ideias no debate, colocando-as no centro do debate e não numa lógica de somatório partidário, essa ideia é um regenerar da identidade do BE”, afirma.
Na opinião de Pedro Filipe Soares, houve pela direção do partido “uma incapacidade e alguma ineficácia na análise da realidade e das saídas” para o BE “ter força na transformação da realidade”.
“É a essa lacuna que pretendemos responder na nossa moção (…) Não basta dizer que queremos mudar para depois deixarmos tudo na mesma, não, de facto tem de haver uma mudança e o BE tem de demonstrar na Convenção que está disponível para mudar e para se regenerar na sociedade com a força que é necessário que o BE tenha”, alega.
O presidente da bancada parlamentar bloquista ressalva que as suas críticas à coordenação de João Semedo e Catarina Martins não têm “qualquer caráter pessoal”, mas considera que a liderança partilhada é um modelo que “não teve grande repercussão popular e não foi motivo de enriquecimento do BE”.
“Propomos uma coordenação unipessoal, esta não é uma questão teórica mas prática, é uma escolha similar ao que o Podemos fez há umas semanas em Espanha, àquela que o Syriza tem, que o ‘Front de Gauche’ em França tem, e não é nada que o BE já não tenha tido até com sucessos eleitorais”, refere Soares.
O dirigente do BE assinala ainda que moção que encabeça teve “um resultado bastante positivo e animador na eleição de delegados” que “demonstra a força das suas ideias” e “uma força grande dentro do BE” que “responde à vontade de mudança que os aderentes tinham como necessária”.
“Tentarmos diminuir este esforço de mudança e este alento que esta moção trouxe ao BE creio que me parece que é analisar menos bem como o BE está a viver este momento”, acrescenta.
Sobre eventuais divisões após a Convenção Nacional, Pedro Filipe Soares responde: “Não colocamos em cima da mesa coisas que não vão acontecer, o BE sairá unido desta Convenção como sempre soube sair, sempre existiram várias listas à Mesa Nacional e várias moções em debate”.
“O BE, que tem tido problemas e devemos reconhecer isso com humildade, está a tornar-se mais forte com este processo [de discussão], por isso é que tivemos a participação recorde de votantes na eleição de delegados e por isso é que o partido está tão envolvido neste debate”, sustenta.
Caso a sua moção seja maioritária na Convenção do fim de semana e assuma a coordenação do partido, Pedro Filipe Soares continuará como deputado mas deixará a liderança parlamentar, afirmando que cabe à próxima Comissão Política definir um substituto, que “tem de sair de um conjunto de oito deputados”.
A moção “Bloco plural”, de Pedro Filipe Soares, elegeu 262 delegados à Convenção Nacional do BE, mais seis do que a “Moção unitária em construção”, de João Semedo e Catarina Martins.