A 30 de julho, quando a Sábado noticia que “Sócrates está sob apertada vigilância” por causa de suspeitas no processo Monte Branco, o ex-primeiro-ministro vai nesse próprio dia à RTP para dar conta da sua indignação. São oito minutos de entrevista em que o socialista enumera os vários argumentos da sua defesa.

Nessa altura, fala sobre o amigo Carlos Santos Silva, suposto testa de ferro de alegadas contas bancárias de Sócrates, e sobre a Akoya, a empresa suíça de gestão de fortunas que é detida por dois dos arguidos no processo Monte Branco.

Há um ano, em entrevista ao Expresso para promover o livro com a tese de mestrado que escreveu em Paris sobre utilização da tortura nas democracias, José Sócrates aproveitou para responder aos principais ataques que recebeu ao longo da sua carreira política: As suspeitas do caso Freeport, as amizades e conversas inconvenientes reveladas no Face Oculta, a polémica sobre a licenciatura e os sinais exteriores de riqueza.

 As contas e o património 

Sobre os sinais exteriores de riqueza, como os apartamentos no Edifício Heron Castilho, na rua Braancamp, em Lisboa, alguns em nome da mãe, Sócrates explica:

“Comprei a minha casa no Heron Castilho onde moro. A minha mãe vivia em Cascais numa moradia, e quando o cão dela morreu sentiu-se sozinha e veio viver para Lisboa. Vendeu a casa de Cascais e comprou o andar por cima de mim (…) quando a minha mãe foi fazer a escritura viu que a senhora que vendia, acho que era estrangeira ou ligada ao estrangeiro e tinha a casa numa propriedade em offshore. Que culpa tem a minha mãe?”

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E como tinha dinheiro para comprar um imóvel numa das zonas mais caras de Lisboa? “Em 1985 quando casei a minha mãe deu-me dinheiro para comprar a casa na Rua Miguel Pais. Quando nasceu o meu segundo filho, eram livros e fraldas a mais e decidir ir para uma casa maior. A da Heron Castilho. Vendi a minha casa, pedi dinheiro emprestado ao banco e comprei aquela”

E sobre o património financeiro? “Eu não tenho contas no estrangeiro, nunca tive (…) Não tenho capitais no estrangeiro (…) A Caixa Geral de Depósitos foi sempre o meu banco há mais de 25 anos (…) “Não conheço ninguém na Akoya”, a empresa suíça que está no centro da investigação a uma rede de branqueamento de capitais. A Procuradoria sempre afirmou que a investigação ao ex-primeiro ministro é independente da Operação Monte Branco.

“A minha família não movimenta grandes somas”. E o próprio garante: “Eu nunca tive capitais para movimentar, sempre vivi do meu trabalho”. Sócrates assegura: “Tenho o meu património declarado ao Tribunal Constitucional desde que sou deputado há 15 anos”.

A vida em Paris

“Quando perdi as eleições (em 2011), telefonei à minha gerente de conta e pedi um empréstimo ao banco (a CGD) de 120 mil euros. Um ano sem nenhuma responsabilidade e levando um filho comigo. Gastei o dinheiro todo”.

“Desde que sai de primeiro-ministro, nunca tive guarda-costas ou seguranças. Tenho o motorista da minha mãe.”

“Fui o primeiro-ministro a acabar com a lei que dava um primeiro-ministro com mais de quatro anos de cargo uma pensão vitalícia. Não recebo pensão. Não recebo nada do Estado português. Por isso trabalho para uma empresa privada. Recebi muitos convites e só aceitei o desta empresa suíça (a Octopharma) porque fui convidado para trabalhar na América Latina. Não em Portugal. Precisava de um emprego”. Segundo a imprensa, Sócrates recebe 12 mil euros por mês por desempenhar estas funções.

Os amigos

Confrontado com as amizades como a de Armando Vara, nomeado para a administração da Caixa e do BCP e mais tarde apanhado no caso Face Oculta, Sócrates desafia: “Eu admito lá a alguém um juízo moral sobre os meus amigos? Quem é que decide o que é um bom amigo?”

Sobre as ligações de negócios a Carlos Santos Silva, ex-administrador do Grupo Lena que agora é apontado como um intermediário nas transferências de dinheiro do ex-primeiro ministro, Sócrates disse no final de julho à RTP “é um amigo de infância, não tenho nada a ver com a sua vida profissional”.

“Tenho a certeza que entre os meus amigos não estão criminosos”.

As campanhas

A propósito das notícias e investigações jornalísticas ao seu estilo de vida, alegadamente ostensivo, José Sócrates responde com processos em tribunal. “O que queria que fizesse? Que bradasse aos céus? Que resolvesse isto à pancada? Pus um processo ao Correio da Manhã, autorizei que se levantasse o meu sigilo bancário para que vejam as misérias da minha conta bancária”.

Mais recentemente, na entrevista que se seguiu à notícia da Sábado que revelava que estava a ser investigado, reage: “É uma campanha de difamação e uma canalhice. Inventam-na para colocá-la nos jornais e ser desmentida pela Procuradoria-Geral da República”.

“Isto é uma canalhice, colocarem-me num quadro geral com Ricardo Salgado e o Monte Branco”.

“Queriam meter um socialista qualquer no Monte Branco”. A Procuradoria acabou por dar razão a Sócrates neste ponto ao separar a investigação ao ex-primeiro ministro do processo Monte Branco.

A licenciatura

“Em primeiro lugar, nunca tive nenhum problema com a minha vida académica, sempre fui um tipo com sucesso no liceu e nunca fui um filho do insucesso escolar“, justifica-se na entrevista a Clara Ferreira Alves, publica no Expresso em outubro de 2013.

Caso Freeport

“A minha mãe tem dois meio-irmãos, homens muito ricos, pessoas com quem estive três ou quatro vezes nos últimos 20 anos. Esse meu tio até era o mais simpático (…) E que me disse que conhecia uns tipos que diziam que no Ministério do Ambiente queriam levar-lhe uma fortuna, pediam dinheiro, para aprovar um projeto. Eu respondi que isso não acontecia no Ministério do Ambiente”.