Um grupo de moradores da freguesia do Forte da Casa, uma das mais afetadas pelo surto de Legionella, reuniu-se este domingo para criar uma Comissão que monitorize no futuro o funcionamento da empresa Adubos de Portugal.

Na sexta-feira, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, declarou extinto o surto de Legionella, sublinhando que os resultados laboratoriais apontam para uma relação entre as bactérias encontradas numa torre de refrigeração da empresa Adubos de Portugal e as recolhidas para análise de doentes.

Na sequência dessa oficialização um grupo de cerca de duas dezenas de moradores reuniu-se esta tarde na junta de freguesia do Forte da Casa, concelho de Vila Franca de Xira, para conversar sobre o surto e para manifestar o receio de que situações semelhantes se repitam.

Foi ainda entregue uma folha a cada um dos presentes com vista à recolha de assinaturas para entregar na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira.

Em declarações à agência Lusa, Pedro Fonseca, um dos responsáveis por este encontro, explicou que um dos objetivos é criar uma Comissão de moradores que exija junto da Câmara de Vila Franca de Xira todas as informações sobre a atividade laboral da ADP, de forma a terem garantias de que esta cumpre todas as regras de segurança.

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A reunião decorreu no edifício da junta e juntou cerca de duas dezenas de moradores, a maior parte deles residentes a poucos metros da fábrica Adubos de Portugal (ADP), apontada como a responsável pela propagação do surto de Legionella, que infetou 336 pessoas e originou a morte a 10.

“Queremos garantias de que está a laborar de forma correta. Queremos ter acessos aos relatórios de atividade para poder comprovar estão a cumprir a legislação”, apontou.

Contudo, o morador, que reside a 200 metros da ADP, admite que um dos objetivos de médio prazo é que a fábrica possa ser deslocalizada.

“Não queremos viver toda a vida com a fábrica ao pé de casa. Não dizemos que é necessário encerrar já a ADP, mas defendemos que haja um plano gradual de transição e que no futuro possa ser deslocalizada”, sublinhou.

Outro morador, Diogo Henriques, contou à Lusa que os problemas relacionados com a ADP “já são antigos” e que os moradores sempre tiveram muitas dúvidas da atividade da fábrica.

“De há uns três, quatro anos para cá notávamos que a ADP emitia um fumo laranja que nos sujava as varandas e a roupa. Com esta notícia da Legionella percebemos que isto é muito grave e já não é uma questão de nos sujar ou não a roupa”, afirmou.

Presente na reunião esteve uma das 336 vítimas da Legionella que disse à agência Lusa que ainda está de baixa e à espera de ter condições físicas para voltar ao trabalho.

“Trabalho desde os 14 anos e esta é a primeira vez que estive de baixa. Estive internada apenas quatro dias, mas ainda me sinto debilitada”, contou Cristina Monteiro.

Para já, Cristina Monteiro não tenciona recorrer à justiça, até porque não acredita “que consiga alguma coisa”: “Para perder tempo e dinheiro? O mais provável é não ter direito a nada”, justificou.

O surto de Legionella, detetado no dia 7 deste mês em duas freguesias de Vila Franca de Xira, já infetou 336 pessoas e originou a morte de 10.