Pequenote. Por isso é ágil. Velocidade não tem muita. Culpa, talvez, da passada larga a correr, pois rápido só é quando, nos pés, tem uma bola. Aí finta, muda de direção e passa-a com acerto. É amigo da técnica, bastante. E dos remates com a baliza distante. O outro é mais alto: ganha esta luta por 13 centímetros. E forte, também, além de mais parado. Gosta muito do conforto da área adversária, como quem chega a casa, calça umas pantufas e depois não descola do sofá preferido. Dois jogadores muito diferentes. Mas iguais na missão: com o pé, a cabeça ou como for, têm que usar a bola para marcar golos. Sempre.
Até o têm feito. Nos últimos cinco jogos, cada um atirou três bolas para a baliza contrária. De início, porém, quando a bola rola pela primeira vez, não coabitavam. Nunca. Só havia espaço para um no 4-3-3 que em números traduz o avançado único que Marco Silva, no Sporting, prefere usar. Por isso, ou começava o el avioncito, alcunha de Fredy Montero, ou o gigante, Islam Slimani. Parecia ser regra. Ou não, até o treinador decidir arriscar — e dizer a um deles que ser avançado é coisa do antigamente.
Esta conversa foi para o ouvido de Montero. E calhou bem. João Mário ficou no banco e Fredy Montero levou os pés a passearem no meio campo. Muitas vezes. Resultou. Foi ele, aos 5’, que, parado, atirou um passe que desmarcou Mané, na direita, a quem, depois, pediu para devolver a bola e, logo a seguir, sacar outro passe que, do mesmo lado, isolou Cédric, que cruzou para Slimani, o amante da área, rematar ao lado quando estava a dois metros da baliza. No minuto seguinte, Montero mascarava o pé de trivela e, de novo, desmarcava Mané.
Era por ali, nos resvés entre os médios e Slimani, que o colombiano andava. A pedir a bola, a tocá-la rápido e a colocar os outros a mexer. Mané era quem mais obedecia, enquanto Nani, mais pausado, preferia fintar à procura de espaço — que Adrien, aos 8’, encontrou para, à entrada da área, rematar à figura de Ricardo Batista. Aos 12’, Montero, na terra de avançados, rematou ao poste uma carambola que se enrolara em ressaltos. Ou seja: o Sporting começara a abrir. O Vitória de Setúbal, de início, até pressionou, sobretudo os laterais, e via-se que o plano era obrigar a que fosse os centrais leoninos os primeiros a pegar no lápis para desenhar jogadas.
Funcionou durante cinco minutos. Depois, até aos 28’, os leões engoliram os visitantes — com uma bomba de Jefferson rebentada num livre pelo, aos 17’, mais duas jogadas em que a bola tocou na barra da baliza do Vitória, uma vez cabeceada por Maurício (mas estava em fora de jogo) e, na outra, por engano de Frederico Venâncio. Até que Domingos Paciência, que regressava a Alvalade após treinar o Sporting, durante sete meses, em 2011/12, viu o problema e trocou João Schmidt por Ericson. Saía um médio com ideias, entrava um raçudo.
E resultou porque, até ao intervalo, por muita bola, mesmo muito, que os leões tivessem, só aos 35’ é que o pé canhoto de Nani rematou, de longe, antes de, aos 37’, Montero, à avançado, desviou um cruzamento de Jefferson para Ricardo Batista defender. O aviãozinho queria voar alto, mas a bola que não entrava impedia-o de descolar. E também não deixava Slimani sentir-se confortável na própria casa. Logo eles, que juntos não jogavam de início desde 9 de fevereiro, quando Leonardo Jardim, ainda no Sporting, foi à Luz e tentou fazer uma surpresa ao Benfica (perderia 2-0).
A culpa só podia ser do Vitória. A equipa de Setúbal voltou do balneário mais certinha, com os jogadores mais próximos a defender. A bola, essa, deixava-a com o Sporting, que ia atacando muito, mas, agora, com menos remates. Como o de Slimani, aos 49’, que acabou na bancada após Montero lhe amortecer a bola, de cabeça, à entrada da área. Ou o de Nani, que foi parar ao mesmo sítio, aos 53’.
Depois Ricardo Batista, o guardião, deu a impressão de ter um íman escondido em cada luva, com magnetismo para a bola e os remates de Montero, aos 60’, e de João Mário, dois minutos depois, que foram direitinhos às suas mãos. Os leões só rematavam fora da área, longe da poltrona, do sofá do qual Slimani tanto gosta. E onde o argelino, por fim, se sentou aos 62’, quando Jefferson, de bem longe, lhe lançou um cruzamento desde a esquerda para o avançado desviar, na pequena área, para o poste e, depois, para golo. O 1-0 aparecia e Slimani calçava as pantufas. Mas com batota — antes de a bola chegar a Jefferson, William Carvalho deu-lhe dois toques, na marcação de um livre, quando as leis dizem que só pode dar um.
#SCPxVFC: Na Liga, o #SportingCP é a equipa que mais marca entre o minuto 61-75, 6 golos. #playmaker #PrimeiraLiga
— Playmaker (@playmaker_PT) November 29, 2014
O árbitro nada disse e, logo no minuto seguinte, o Vitória também nada pareceu querer fazer para mudar as coisas. Porquê? Logo na saída de bola a meio campo, a equipa de Domingos Paciência perdeu a bola e viu-a ir parar a Slimani que, a uns 30 metros da baliza, a tocou para Montero, o mais pequeno, ágil e amigo da técnica, que estava de frente para a baliza. Quando a recebeu, o colombiano olhou para a baliza, pensou, decidiu e rematou. Saiu um foguete, com tanta força que o ligeiro toque que a bola deu na cabeça de François apenas serviu para a dirigir ainda mais para a baliza contrário. 2-0 e um golaço em Alvalade.
El avioncito descolava e o gigante ficava confortável. E o Sporting, pela segunda vez na época, marcava dois golos em dois minutos (já o fizera em Barcelos, contra o Gil Vicente, a 21 de setembro). O conforto estendeu-se à equipa e o desconforto apareceu no Vitória de Setúbal. Tanto que, aos 67’, surgiu o primeiro remate à baliza dos leões, rasteiro e fraco, por Zequinha, direitinho para as mãos de Rui Patrício. Com 78 minutos foi Ericson a rematar forte, mas ao lado da baliza. A coisa, porém, estava roxa para os lados de Setúbal, da mesma cor que o equipamento da equipa.
#SCPxVFC: Esta foi a 2.ª vez na época que Slimani e Montero marcaram no mesmo jogo, o 1.º em Alvalade #playmaker #PrimeiraLiga
— Playmaker (@playmaker_PT) November 29, 2014
Do lado verde, do anfitrião, viu-se até ao fim um desperdício. Dos grandes, quando Carrillo, na direita, recebeu a bola, pirou-se de perto de Hélder Cabral e, na área, cruzou rasteiro para Diego Capel que, nem a três metros da baliza, obrigou o estádio a engolir o grito de golo que já ia a meio — o extremo espanhol rematou a bola contra a trave de uma baliza que estava deserta. A bola, mesmo antes de ser batida pelo pé do espanhol, saltou, é verdade, mas não serve de desculpa.
Nem Marco Silva, o treinador dos leões, terá de se desculpar a ninguém por, pela primeira vez, apostar de início nos dois homens com missão golo. Fredy Montero pode servir a médio, mascarando-se de um ‘10’ diferente do que costuma ser João Mário — o colombiano tem “mais golo”, mais mente virada para rematar de todo o lado e procurar a área. Como um avião que, lá de cima, vê mais terrenos onde possa aterrar.
Já Slimani, esse, foi igual ao que tem sido e andou pela área à espera que as bolas lhe chegassem. Ainda lhe chegaria mais uma, fora de horas, aos 90’+3, vinda do pé direito de Carrillo, que o argelino cabeceou para fechar a partida com um 3-0. E para, de vez, se aconchegar no seu sofá preferido. O dos golos, pois já leva oito esta época.