Em pouco mais de uma semana já passaram por Évora um ex-Presidente da República, um ex-primeiro-ministro, vários ministros e diversos socialistas. Muitos foram dar um abraço ao amigo José Sócrates, alguns falaram da injustiça da prisão preventiva e defendem o princípio da presunção de inocência, mas poucos se atrevem a usar a palavra “inocência”.

O primeiro a tocar à campainha da cadeia de Évora, para visitar o preso preventivo mais conhecido do país, foi Capoulas Santos. O ex-ministro da Agricultura foi dar um “abraço” por “solidariedade” ao amigo José Sócrates e foi o primeiro a defender, “obviamente”, a inocência do ex-primeiro-ministro. Se Capoulas, enquanto amigo, foi também a primeira visita de um político, Sofia Fava, a ex-mulher, foi a primeira visita de família. A ex-mulher de Sócrates foi acompanhada de Capoulas e à saída revelou que José Sócrates “está muito bem. Está com uma postura muito filosófica perante os factos todos”.

E depois da “postura filosófica”, a postura agitada. A primeira semana de visitas teve o auge mediático com a visita de Mário Soares. Nas vésperas do congresso socialista, Soares ligou o PS como o caso como António Costa não queria que se ligasse, quando foi ao Alentejo dizer que “todo o PS está contra esta bandalheira toda” e deixou severas críticas à prisão preventiva.

Mas nem todo o PS se quis solidarizar com José Sócrates e fazer-lhe uma visita. Até ao momento não houve um único membro da nova direção de António Costa a deslocar-se até Évora e não estão previstas, pelo menos para já, visitas de responsáveis socialistas. A única presença de um presidente do partido, mas honorário, foi de Almeida Santos.

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“Enquanto não for condenado, acredito na inocência dele”, foi a expressão mais visível de alguém que defende que José Sócrates é inocente. De resto, apesar das mostras de solidariedade, poucos se aventuraram em pronunciar a palavra “inocente” ou a variante “inocência”.

A descolagem (ou pelo menos a não colagem) foi pedida pelo próprio líder do PS e foi consumada num congresso onde o nome Sócrates não chegou a ser pronunciado.

Mas foi no dia desse mesmo congresso que três socialistas, próximos do ex-primeiro-ministro, decidiram ir a Évora. Renato Sampaio, Isabel Santos e André Figueiredo fizeram um intervalo no conclave no sábado para irem encontrar o amigo “bem-disposto”. “Eu acho que a melhor mensagem que posso levar desta visita foi encontrá-lo muito bem, bastante sereno e determinado em defender-se”, disse André Figueiredo à saída do Estabelecimento Prisional de Évora.

Com o decorrer dos dias, Sócrates recebeu ainda a visita do atual marido de Sofia Fava, Manuel Costa Reis, que lhe foi levar alguns pedidos, do ex-ministro Jorge Lacão e do advogado João Araújo.

Já esta quinta, foi a vez de Fernando Gomes, ex-presidente da Câmara do Porto, e de António Guterres, ex-primeiro-ministro. E se Guterres, que esteve cerca de meia-hora na prisão, disse apenas que foi visitar um amigo e que o encontrou “muito bem”, Fernando Gomes atravessou-se na defesa de Sócrates: “Acredito profundamente na sua inocência”. O ex-primeiro-ministro pode receber visitas às terças, quintas, sábados e domingos.