Michael Garcia foi claro: “Nenhum comité, investigador ou painel consegue mudar a cultura de uma organização.” Qual? A FIFA, entidade que gere o futebol mundial, da qual o juiz norte-americano se demitiu esta quarta-feira, após investigar, analisar e escrever um relatório sobre os processos de atribuição dos Mundiais de 2018 e 2022 à Rússia e ao Qatar. E depois de ler, não gostar e protestar contra o resumo que a FIFA redigiu sobre as conclusões que apontou nas 430 páginas da investigação, que concluiu no início de setembro.
O antigo juiz federal do estado de Nova Iorque, nos EUA, diz que a decisão de Hans-Joachim Eckert, líder da Câmara Decisória da FIFA, que se pronunciou sobre o seu relatório, o fez “perder confiança na independência” desse órgão. “Mas é a falta de liderança da FIFA nestes assuntos que me levou a concluir que o papel neste processo chegou ao fim”, explicou Garcia, num comunicado citado pelo The Guardian. Joseph Blatter, presidente da FIFA, revelou estar “surpreendido” com a decisão, de acordo a Sky Sports.
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Eckert, recorde-se, foi responsável pelo relatório, de 42 páginas, que a 11 de novembro reconheceu um “alcance muito limitado” às “ocorrências” descobertas pela investigação de Michael Garcia — dando por “encerrada” a “avaliação” ao processo que atribuiu os próximos dois Campeonatos do Mundo à Rússia e ao Qatar, à volta do qual existiam suspeitas de suborno e corrupção. Estas conclusões, argumentou na altura Michael Garcia, o então líder da Câmara de Investigação da FIFA, continham “várias representações erróneas e materialmente falsas dos factos e conclusões”.
Ou seja, Eckert omitira informação. Por isso, Michael Garcia remeteu uma queixa para o Comité de Apelo da entidade, contra o relatório. Um apelo que a FIFA rejeitou na terça-feira e considerou até “inadmissível”. A demissão do juiz norte-americano demorou um dia a chegar. “Tendo em conta o relatório que pretendia sumarizar, nenhuma análise com princípios poderia justificar a edição, as omissões e adições [no resumo] de Eckert”, defendeu Garcia.
A investigação de Michael Garcia, apesar de vários pedidos — como de Michel Platini, presidente da UEFA, ou Jérôme Champagne, adversário de Joseph Blatter na corrida à presidência da FIFA –, não foi divulgada publicamente. A entidade, aliás, citou o próprio Código de Ética para justificar a recusa em revelar as conclusões feitas pelo juiz norte-americano, que entrevistou 75 testemunhas no processo.