A crise na zona euro e as eleições europeias que levaram à paralisação das instituições até serem escolhidos os novos eurodeputados e o novo colégio de comissários afetaram de forma negativa a política externa da União Europeia no que diz respeito à situação no Norte de África, na resposta à tragédia de Lampedusa e ao conflito na Síria e no Iraque, mas também a dimensão dos problemas torna difícil a sua resolução. Esta é a conclusão de um relatório elaborado pelo think tank European Council on Foreign Relations e pela fundação Compagnia di San Paolo, que avalia anualmente a política externa coordenada dos 28.
Este relatório analisa a atuação dos vários países que constituem a União Europeia nos principais temas de ação externa de 2014, qualificando-os entre líderes, seguidor ou preguiçoso, e ordenando as ações de política externa consoante os seus resultados na prática. Este ano foram analisadas 65 linhas de ação política em vários continentes, incluindo assuntos multilaterais. Uma equipa de investigadores de várias nacionalidades compilou a informação, organizando-a consoante o desempenho dos países e da União Europeia como um todo.
O relatório conclui que algumas políticas funcionaram e foram efectivas como no caso das sanções contra a Rússia, a promoção da melhoria das relações entre EUA e Irão ou a política de vizinhança no continente europeu. No, entanto, o documento ressalva as posições individuais de certos países nalgumas das maiores ameaças como França ou Reino Unido em detrimento de entendimentos alargados que foram mais vezes produzidos pela Alemanha e pela Suécia. Este relatório, analisando vários tópicos de ação externa como investimento e ação política, constata que apesar de os recursos e da unidade em volta de algumas matérias ter sido grande, os resultados da política externa europeia não produziram especiais resultados em 11 áreas:
1. Segurança regional na Médio Oriente e África do Norte Regional
2. Resposta à crise de imigração no Mediterrâneo
3. Síria e Iraque
4. Sudão, Congo e República Centro-Africana
5. Líbia
6. Liberdade política na Rússia
7. Macedónia
8. Relações com a Turquia sobre o conflito no Chipre
9. Iémen
10. Direitos humanos na Rússia
11. Democracia e direitos humanos na Turquia
O relatório aponta que os temas relacionados com áreas geográficas próximas da União Europeia têm graves repercussões na segurança dos 28 e um “grande papel” nos movimentos que atuam em território europeu e tentam radicalizar jovens em vários países. No rescaldo dos atentados em França, os investigadores ressalvam a ligação intrínseca entre a instabilidade dos países vizinhos da Europa e os desafios dentro das fronteiras.
Portugal é mais líder do que preguiçoso
Portugal, segundo este relatório, liderou dois temas da política europeia em 2014. Um deles foi a pressão para a conclusão com sucesso do Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento entre a União Europeia e os Estados Unidos da América (TTIP) e o outro foi a luta contra as alterações climáticas. Mas nem tudo são boas notícias para o país, que segundo a classificação destes investigadores foi preguiçoso na concessão de ajuda internacional ao desenvolvimento. A Alemanha foi o país que mais liderou as causas de política externa, tendo sido identificada como a principal impulsionadora em 17 áreas de ação externa europeia.
Quanto ao TTIP, o relatório aponta que a oposição a este acordo comercial cresceu um pouco por toda a Europa em 2014, especialmente na Áustria e em França, mas que a sua realização terá um impacto significativo nas exportações dos 28. Os governos da Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Polónia, Portugal, Suécia e Reino Unido são os países que têm “trabalhado mais arduamente” para promover o interesse de manter as linhas de comunicação abertas com os Estados Unidos. Também nas alterações climáticas, Portugal é um dos países com esforços mais destacados, enquanto Estónia, Irlanda ou Polónia são apontados como menos interessados em fazer mudanças a nível das energias renováveis e diminuição das emissões de CO2.
Onde Portugal está pior, nomeadamente na ajuda internacional, o país não foi o único a cortar fundos. Também Áustria, Bélgica, Croácia, Lituânia, Malta, Holanda, Polónia e Roménia cortaram os seus orçamentos, num ano em que o desenvolvimento está na agenda global, dado que estão a ser pensados os próximos objetivos do Milénio na ONU, e este é o Ano Europeu do Desenvolvimento.