Rikardo nasceu a 1 de janeiro de 2015, na Hungria. Filho de pai e mãe de etnia cigana, tornou-se uma pequena celebridade por ter sido o primeiro bebé a nascer no novo ano naquele país. Até aqui nada de anormal. O que os pais de Rikardo não estavam à espera era que o nascimento do filho despoletasse uma discussão racial que ganhou repercussões a nível nacional, como conta a BBC.
Tudo começou quando o número dois do partido de extrema-direita o Jobbik – Movimento por uma Hungria Melhor, Elod Novak, escreveu um comentário racista na página do Facebook, depois de saber que Rikardo, o primeiro bebé húngaro de 2015, era de etnia cigana.
“O número de húngaros não só está a descer desastrosamente, como também, nós [os húngaros] nos vamos tornar, em breve, a minoria nas nossas próprias casas. Quando vai chegar o dia em que eles [ciganos] vão decidir mudar o nome da Hungria? E quando é que vamos enfrentar o maior problema do nosso país?”, questionou Novak, referindo-se aos cidadãos de etnia cigana.
O comentário de Elod Novak motivou uma intensa troca de argumentos naquela rede social entre os apoiantes do partido e os que se insurgiram contra as palavras racistas do número dois do Jobbik. Escreve a BBC, que um dos comentários mais repetidos, ainda que com diferentes formulações, refletia o ódio racial aos ciganos. “Eles estão a reproduzir-se como ratos, como parasitas”, acusavam alguns utilizadores da rede social.
Ouvidos pela cadeia de televisão britânica, os pais de Rikardo preferiam afastar-se da polémica e pediram apenas que os deixassem seguir em paz. “Eu só desejo uma vida familiar calma, sem atenção mediática. Comida quente em casa e a minha família a rodear-me quando chego a casa do trabalho”, pediu Peter, o pai do bebé húngaro.
Também Sylvia, mãe de Rikardo, garantiu não perceber a controvérsia criada em torno do nascimento do filho. “As pessoas não devem ser estigmatizadas desde que nascem. Quando o meu filho fizer 18 anos, ele vai poder decidir se quer ser identificado como cigano ou não. A culpa não é dele de ter nascido um bocadinho depois da meia-noite”, afirmou Sylvia.
Antes do nascimento de Rikardo, Sylvia garantiu que ela e a família nunca tinham sentido qualquer hostilidade na cidade de Mako. Muito menos racismo. “Talvez existisse racismo na Hungria antes deste episódio, mas eu nunca tinha sentido. Nós adorámos viver nesta cidade. Toda a gente é simpática para nós. Agora, o meu bebé está dar-me força para ultrapassar isto”.
O problema do racismo é um fenómeno crescente na Hungria. Os crimes relacionados com o ódio racial têm saltado para as primeiras páginas de jornais em todo o mundo, pelos números e pela violência dos ataques – um dos casos mais mediáticos teve o seu desfecho em 2013, quando foram condenadas quatro pessoas, três a prisão perpétua e um quarto a 13 anos, depois de terem organizado ataques, durante 13 meses, entre 2008 e 2009, contra a comunidade cigana. Mataram seis, feriram vários, incendiaram casas e espalharam o terror em Budapeste.
Também o Jobbik, um partido nacionalista e antissemita, parece estar a conseguir capitalizar o ódio racial e a transformá-lo em votos: em 2014, teve um resultado significativo, depois de alcançar 21% dos votos, um aumento de cinco pontos percentuais em relação às eleições de 2010.
O comentário de Novak parece, no entanto, não abalar as convicções de Peter, o pai do bebé que motivou a ira e o ódio dos apoiantes do deputado húngaro e número dois do Jobbik. “Tudo o que nos diferencia é a cor da nossa pele. Temos os mesmos corações, o mesmo sangue e as mesmas almas”, sublinhou Peter.