Os espanhóis do Caixabank estão a oferecer 1,329 euros por cada ação do BPI na Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada esta terça-feira, um prémio de 27,4% face ao preço de fecho de segunda-feira e um valor em linha com a média dos últimos seis meses. No entanto, trata-se de um valor que corresponde a dois terços do que o BPI valia em abril, quando Portugal se aproximava do final do programa da troika e antes do colapso do Banco Espírito Santo (BES), que penalizou as ações de todo o setor bancário nacional.
Levantada a suspensão das ações esta terça-feira, pelas 9h30, as ações do BPI abriram a disparar 26%, segundo a Bloomberg, alinhando com o preço da OPA. A agência está, também, a citar o presidente executivo do banco a dizer que o BPI “deve analisar o Novo Banco“, confirmando que esta operação se enquadra na estratégia de compra do banco que resultou da resolução aplicada ao BES.
Também o conselho de administração do BPI já indicou, em comunicado, que “independentemente dos desenvolvimentos do processo da oferta, o Banco BPI prosseguirá sem alterações e com inteira normalidade o seu plano de atividades, incluindo a anunciada candidatura à aquisição do Novo Banco, nos termos estabelecidos pelas autoridades”. A administração não se pronunciou, ainda, contudo, sobre se recomenda ou não aos acionistas a aceitação da proposta.
“Não há a menor dúvida de que a operação vai ser bem sucedida”, diz ao Observador João Pereira Leite, diretor de investimentos do Banco Carregosa. Isto porque “o La Caixa não impõe grandes condições, querem apenas obter mais de 5o% do capital (quando já têm 44%) e deixar cair a limitação dos 20% de direitos de voto”, explica o especialista.
João Pereira Leite diz que “1,329 por ação é um bom preço, considerando que a este preço um acionista está a pagar um prémio significativo pelos ativos portugueses, face a outros bancos cotados em Portugal”. Assim, “não haverá uma revisão do preço pois a OPA foi feita de acordo com as exigências da CMVM”. Além disso, “não haverá uma nova entidade a apresentar uma contra-OPA, pois o banco é controlado em 44% pelo atual oferente”.
O Grupo La Caixa é o principal acionista do BPI, com 44,1% do capital social (direitos de voto limitados a 20%). A Santoro de Isabel dos Santos é a segunda maior acionista, com 18,6%, e o grupo alemão Allianz tem 8,4%.
Caixabank oferece cerca de 65% do que o BPI valia em abril
A dor de cabeça em Angola
A OPA surge, também, numa altura em que o BPI enfrenta um problema criado pela decisão do BCE sobre a exposição a Angola, penalizadora para o BCP mas sobretudo para o BPI. Novas regras de regulação na zona euro tornaram, a partir de 2015, mais penalizadora para o BPI a exposição ao Estado angolano através da dívida pública que está no Banco Fomento Angola (BFA), onde o BPI é acionista maioritário com 50,1%. Na prática, o BCE deixou de atribuir equivalência na regulação e supervisão ao banco central angolano, o Banco Nacional de Angola (BNA), o que impossibilita que o BPI continue a contabilizar essa exposição como tem feito a fazer, no que diz respeito aos rácios de capital.
A descida dos rácios de capital que isto implicaria poderia levar a que o BPI tome medidas para reforçar a solidez do capital face aos ativos e ao risco assumido pelo banco. A descida das ações nas últimas semanas terá sido um sinal de que os investidores receiam que o BPI tenha de fazer um aumento de capital ou, em alternativa, que tenha de reduzir drasticamente a exposição a Angola, que tem sido uma fonte importante de rentabilidade para o BPI.
“É daquelas situações que quando estiver resolvida mostraremos como resolvemos. Até lá, não posso comentar mais”, diz Ulrich, que não desvendou sequer qual é o prazo para encontrar uma solução. “Há várias formas de o fazer” (de cumprir as regras). Mas “a situação é complexa” e Ulrich não quis fazer mais comentários, garantindo que “o BPI cumprirá aquilo que é determinado pelo supervisor europeu”.
João Pereira Leite, do Banco Carregosa, diz que este processo “é uma solução para o problema de Angola pois desta forma a posição no BFA fica diluída numa estrutura muito maior”. “Um aumento de capital no BPI para resolver a questão do BFA não faria sentido pois seria um esforço muito significativo para os acionistas”, afirma o especialista.
Carrossel nas ações do BPI
O gráfico acima reflete o comportamento das ações do BPI ao longo dos últimos doze meses, sem incluir a abertura esta terça-feira, depois de levantada a suspensão pela CMVM. Mostra a evolução negativa das ações a partir da primavera, à medida que se agravaram os problemas em torno do BES (altura, também, do último aumento de capital do BES), e alguma recuperação na altura da divulgação dos testes de stress do BCE, em outubro. Um exercício em que o BPI teve um bom resultado. Desde meados de dezembro, a questão com a exposição a Angola tem vindo a pressionar as ações.
O banco espanhol CaixaBank apresentou esta terça-feira uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre 100% do capital do BPI. A instituição financeira catalã enviou um comunicado à Comissão de Mercado e Valores Mobiliários (CMVM) onde confirmou a intenção de subir a participação no banco para, pelo menos 50%, face aos 44% que detém atualmente.
Estes 44% que, contudo, não lhe garantem mais do que 20% dos direitos de voto. Uma regra estatutária que terá de ser alterada em assembleia-geral de acionistas – algo que tem de ser aprovado por 75% dos acionistas – para que a operação siga em frente. Os catalães – donos da rede La Caixa – oferecem 1,329 euros por cada ação do BPI, num total de 1,1 mil milhões de euros, e dizem prever “continuar a apoiar a equipa de gestão” do BPI, liderada por Fernando Ulrich.
O CaixaBank já está a preparar esta OPA há vários meses, refere o El País, que salienta que a compra do BPI é vista com bons olhos no mercado financeiro espanhol, não só porque o banco português teve 161,6 milhões de euros de prejuízos em 2014, como também deixaria o banco catalão muito bem posicionado na corrida à compra do Novo Banco, em que o BPI entrou.
Desde 2010, o CaixaBank adquiriu cinco bancos em território espanhol, sendo que o BPI é a primeira tentativa de compra fora de Espanha. Os bancos comprados foram a Caixa Girona, o Bankpyme, a Banca Cívica, o Banco de Valencia e as operações bancárias do Barclays em Espanha.