A temperatura máxima prevista esta terça-feira para Lisboa e Porto é de 59 graus. Na Guarda é onde estará mais frio: 42,8 graus. Temperaturas normais para a época, portanto. Os números podem parecer-lhe estranhos, mas, acredite, são temperaturas verdadeiras – só que estão medidas em graus Fahrenheit.
Trata-se de um sistema de medição que atualmente só é usado por três países no mundo: Estados Unidos, Birmânia e Libéria. E, destes, apenas os Estados Unidos são considerados um país industrializado, o que o torna caso único no mundo. Porque é que os americanos ainda não medem a temperatura em Celsius, como quase toda a gente?
A história tem barbas. Foi no já longínquo ano de 1692 que o alemão Daniel Gabriel Fahrenheit, nascido na Polónia, se tornou a primeira pessoa no mundo a conseguir que dois termómetros tivessem o mesmo nível de mercúrio. Perante o feito, Fahrenheit estabeleceu uma escala, que ganhou o seu nome, que tinha a temperatura corporal (96 ºF) como referência. Em graus Fahrenheit, a água ferve aos 212 e congela aos 32, números bem menos redondos do que acontece na escala Celsius (100 e 0).
Falemos agora de Celsius, Anders Celsius de seu nome. O sueco, contemporâneo de Fahrenheit, inventou em 1742 o sistema que é hoje comummente usado pelo mundo fora. “Celsius deve ser reconhecido como o primeiro a realizar e publicar experiências cuidadosas com o objetivo de definir uma escala internacional de temperatura com bases científicas”, explica Olof Beckman, da Universidade de Uppsala, no leste da Suécia.
Apesar do trabalho de Celsius, Fahrenheit tinha chegado primeiro e sido aceite na British Royal Society, a mais importante academia científica da época, o que fez com que o sistema por ele desenvolvido tivesse sido aceite pelo Reino Unido e respetivas colónias com mais facilidade do que a escala Celsius.
E assim foi até meados do século XX. O Reino Unido começou a mudar para o sistema métrico a partir de 1965 e, juntamente com os metros e os quilogramas, adotou também as temperaturas em Celsius. As colónias e ex-colónias seguiram-lhe o exemplo. Mas não os Estados Unidos. Porquê? Nesse país, explica o Vox, até chegou a ser aprovada uma lei no Congresso que previa a adaptação ao sistema métrico, deixando cair as medidas que ainda hoje são populares por lá (Fahrenheit, milhas, acres, galões, libras). Mas – pormenor relevante – a lei era de aplicação voluntária.
“Os motoristas rebelaram-se contra a ideia de os sinais nas autoestradas serem em quilómetros, os observadores meteorológicos empalideceram perante a perspetiva de fazer previsões em Celsius e os consumidores recusaram comprar carne em quilos”, lê-se no Mother Jones. Assim, a lei do Congresso não passou de letra morta, o antigo sistema manteve-se e, em 1982, Ronald Reagan enterrou definitivamente o sistema métrico, ao acabar com o grupo de trabalho que tinha sido criado especificamente para a implementação do dito.
Por fim, uma pequena história sobre uma das dispendiosas consequências que a não adoção do sistema métrico teve para os Estados Unidos. Em 1999, o primeiro satélite meteorológico do mundo a orbitar outro planeta – neste caso, Marte – desapareceu dos radares. E tudo porque foram utilizados dois softwares para a ignição dos propulsores que usavam unidades diferentes: um funcionava em libras e o outro, ao receber os dados do primeiro, assumiu automaticamente que os valores estavam em newtons. Com a confusão, o satélite acabou por atingir o limite da atmosfera marciana e terá rebentado. Foram 125 milhões de dólares perdidos.