E se a peste negra não tiver sido, afinal, culpa das ratazanas? A equipa de Boris Schmid, investigador na Universidade de Oslo (Noruega), estudou o clima da época e encontrou outros responsáveis – os gerbilos asiáticos. Os resultados da investigação foram publicados esta terça-feira na Proceedings of the National Academy of Sciences.

A peste negra na Europa começou em meados do século XIV e matou milhões de pessoas até ao início do século XIX – alguns estudos apontam mesmo para a morte de um terço da população europeia. Vinda da Ásia pela Rota da Seda, a bactéria Yersinia pestis entrou na Europa pelos portos do mediterrânico. Até agora pensava-se que tinha sido uma introdução única e que a bactéria tinha criado um reservatório nos parasitas dos roedores, nomeadamente das ratazanas-negras. As ratazanas espalhavam-se pela Europa e de cada vez que as pulgas saltavam dos animais para o homem infetavam-nos com a peste bubónica.

Os investigadores admitem que as ratazanas-negras foram responsáveis pela disseminação de doenças nos barcos e nos portos – daí se ter imposto o período de quarentena antes de descarregar os barcos -, mas não poderão ser acusadas pela segunda pandemia na época medieval. Para o demonstrar os cientistas analisaram as pragas que assolaram a Europa e a Ásia na altura, o potencial de serem mantidas e transmitidas pela fauna selvagem, e as variações do clima (pelo estudo dos anéis das árvores).

“Mostrámos que sempre que havia boas condições para o gerbilos e pulgas na Ásia central, alguns anos depois a bactéria aparecia nos portos das cidades da Europa e espalhava-se pelo continente”, disse Nils Stenseth, investigador na Universidade de Oslo, citado pela BBC. O aumento de temperatura fazia crescer a população de gerbilos-asiáticos e consequentemente a quantidade de parasitas que transportavam, mas quando as temperaturas desciam e os roedores morriam, as pulgas tinham de encontrar outro hospedeiro. Dos gerbilos passavam para os camelos das caravanas na Rota da Seda, para os humanos que as conduziam ou para os bens que eram transportados.

Assim, os investigadores absolvem as ratazanas-negras da transmissão da peste bubónica na Europa, até porque muitas das cidades afetadas não tinham esta espécie de roedor. As pulgas responsáveis pela transmissão da doença podiam ter viajado tanto com as pessoas como com os bens. A equipa de Boris Schmid acrescenta também que a bactéria não terá entrado apenas uma vez na Europa, mas pelo menos 16 vezes. Para provar esta teoria vão analisar o ADN das bactérias Yersinia pestis recolhidas nas vítimas e perceber se pertencem a linhagens diferentes.

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