Durão Barroso voltou esta quinta-feira às lides académicas e teve sala cheia na sua primeira aula na Universidade Católica. Disse que não compreendia o pessimismo vivido na Europa, já que a União esta hoje melhor do que há 10 ou 20 anos, embora afirme que nos corredores de Bruxelas e Estrasburgo há quem preferisse uma Europa só com os seis países fundadores em vez dos 28. O antigo presidente da Comissão disse ainda que o caminho tem sido o da integração, mesmo em crise, e questionou se isso não teria atribuído “poder excessivo” à instituição que liderou nos últimos 10 anos.

Palavras só na sala de aula. Barroso escolheu não falar aos jornalistas no final da sua palestra inaugural, nem comentou as declarações de Juncker, seu sucessor, sobre a presença da troika em Portugal, Irlanda e Grécia. O objetivo esta quinta-feira foi voltar à academia e teve ao seu lado uma das maiores figuras da ciência política em Portugal, Adriano Moreira. O professor catedrático disse, sobre os anos de Barroso em Bruxelas, que foi “um período tremendo” e que “deve ser difícil ser presidente da Comissão quando a União Europeia não tem conceito estratégico definido”.

Barroso não confirmou esta afirmação, mas disse que a crise foi sobretudo política e pôs em causa “a confiança nas instituições”. O antigo primeiro-ministro disse que há atualmente um “glamour intelectual do pessimismo” sobre a Europa que não entende – a não ser devido à evolução demográfica dos vários Estados-membros -, já que “a Europa tem vindo a dar passos no sentido de maior integração”. Como exemplos, o social-democrata falou na união bancária, nos mecanismos de resolução e até na avaliação prévia que a Comissão Europeia faz dos orçamentos nacionais.

“Hoje a Comissão tem muito mais poderes do que há 10 anos, até pode hesitar utilizá-los, nomeadamente, quando lhe é conferida a competência para rejeitar em primeira leitura, antes dos parlamentos nacionais, os orçamentos de Estado dos Estados-membros. É até um poder excessivo”. O antigo presidente da Comissão notou, contudo, que esta tinha sido uma incumbência que os próprios Estados passaram para as instituições comunitárias.

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Na perspetiva de Durão, a União está melhor hoje do que há 10 ou 20 anos atrás, embora refira que nos corredores de Bruxelas e Estrasburgo haja saudosismo em relação à Europa a seis, quando apenas a integravam os países fundadores: França, Alemanha, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda. À ideia de uma Europa mais “cosy” (aconchegante), Durão responde que nessa altura, os países do Sul e do Leste da Europa viviam sob ditaduras.

No entendimento de Barroso, cabe agora aos países, mesmo aos mais pequenos, como Portugal, tomarem a iniciativa em Bruxelas, mesmo que a Europa esteja a passar por uma fase “pós-traumática”. No entanto, é o próprio antigo presidente da Comissão que reconhece que há tendência para os países terem “uma posição defensiva”, não entendendo como é que pode haver “queixas” quando um Estado toma a tal iniciativa.