As palavras de António Costa sobre a melhoria do estado do país em relação a 2011 continuam a marcar a atualidade. Esta quinta-feira, foi a vez de Manuela Ferreira Leite, no seu espaço de comentário semanal na TVI 24, criticar a, aparente, mudança de discurso do atual secretário-geral do PS. “A tendência da maioria dos políticos é terem uma opinião às segundas, quartas e sextas-feiras, e às terças, quintas e sábados terem mais ou menos a posição contrária”, criticou a ex-governante.

As palavras de António Costa, proferidas num encontro com empresários e investidores chineses no Casino da Póvoa de Varzim, causaram algum embaraço no seio do PS e obrigaram, inclusive, o ainda presidente da Câmara de Lisboa a enviar uma mensagem aos militantes socialistas a justificar as suas palavras. Já antes, Costa tinha vindo a terreiro defender que, perante estrangeiros, tem o dever de transmitir “confiança” no país.

Ora, para Ferreira Leite, essa justificação caiu em saco roto: “Quando uma pessoa fala genuinamente sobre qualquer assunto, seja em qual for a circunstância, local ou ocasião, não diz aquilo que pensa e o contrário (…) Pode até ter acontecido que António Costa estivesse genuinamente a pensar que o país está melhor”.

Então António Costa deveria ter dado a sua opinião verdadeira sobre aquilo que pensa – ou seja, que o país está mal? A ex-ministra disse que também não era bem assim. “António Costa fez bem em não ter falado mal do país. Não imaginaria que houvesse algum português, fosse ele político ou não, que perante o estrangeiro dissesse o contrário”.

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Mas se António Costa não devia ter elogiado a economia do país, nem a deveria ter criticado abertamente perante potenciais investidores, então por que diapasão deveria ter afinado o líder socialista? Manuela Ferreira Leite explicou: “Há sempre outros temas sobre os quais podem ser falados (…) Podemos atrair os investidores sem dizer o contrário daquilo [que defendemos]”, sublinhou a ex-líder do PSD.

Aliás, a ex-ministra também acredita que o país está melhor do que em 2011, tendo em que conta que na altura se encontrava em “bancarrota” e na perspetiva de pedir o resgate financeiro. E, nesse aspeto, “o país melhorou”, ainda que à custa de “circunstâncias negativas”, como o “aumento da taxa de desemprego” e dos níveis de pobreza registados entre “idosos e crianças”.

Desafiada a responder se as palavras de Costa serviriam de arma de arremesso para a oposição a Costa, Manuela Ferreira Leite desvalorizou, sublinhando que esse era um aspeto “secundário”, e aproveitou para tecer uma crítica à classe política: “[Os partidos] são iguais numa certa forma de falar para os eleitores, têm sempre aquela tendência para dizerem aquilo que pensam que as pessoas querem ouvir”.

Na sequência das palavras de Costa, Alfredo Barroso, um dos fundadores do PS, anunciou a decisão de pedir a desfiliação do partido, descontente com a “chinesice” do secretário-geral do PS.