Joaquim Barroca, um dos administradores e donos do grupo Lena, terá sido o autor das várias transferências feitas para as contas bancárias de Carlos Santos Silva, amigo de José Sócrates, na Suíça, adianta o Diário de Notícias.
De acordo com informações recolhidas pelo jornal, Barroca terá sido identificado pelo Ministério Público através da análise dos dados bancários fornecidos pelas autoridades suíças. Estas permitiram ao procurador Jorge Rosário Teixeira identificar, não só a origem do dinheiro, como também o período em que as transferências foram feitas, que corresponde aos anos de 2007 a 2009, durante os mandados de José Sócrates como primeiro-ministro.
Já o jornal i, refere esta quarta-feira que os investigadores da Operação Marquês, em que se encontra envolvido o antigo primeiro-ministro, estão a consultar e a recolher informações a partir de outros inquéritos abertos, relativos a contratos adjudicados ao grupo Lena. Entre estes, encontram-se os inquéritos às parcerias público-privadas rodoviárias e à Parque Escolar.
A empresa de construção civil foi, em consórcio com as construtoras Abrantina e Manuel Rodrigues Gouveia, a principal beneficiada nas obras da Parque Escolar, com as quais arrecadou cerca de 137 milhões de euros. As obras realizadas em várias escolas públicas nas zonas de Portalegre, Felgueiras, Lisboa e Marina Grande, representam quase dois terços dos contratos conseguidos pelo grupo Lena.
A Lena integrou também o consórcio liderado pela Brisa que venceu a concessão do Baixo Tejo, uma das oito PPP Rodoviárias lançadas por José Sócrates. Estas estão atualmente a ser investigadas pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
O grupo de Leiria participou ainda no agrupamento que venceu a concessão Litoral Oeste, que corresponde às zonas de Leiria, Batalha, Tomar e Alcobaça. De acordo com uma auditoria do Tribunal de Contas, esta foi a PPP que mais lucro gerou às construtoras (13,1%, mais 3% do que a média das restantes PPP).
O grupo Lena está a ser investigado devido à ligação com Santos Silva, que terá recebido altas quantias em troca de alegados favorecimentos em negócios. De acordo com o i, um dos indícios recolhidos pelos investigadores diz respeito ao encontro entre José Sócrates e o vice-presidente angolano, que terá sido organizado pelo embaixador de Portugal em Nova Iorque, Álvaro Mendonça e Moura. Segundo o jornal, o encontro teve como objetivo pedir favores para o grupo Lena.
Antes da reunião, terá existido uma conversa telefónica, que foi intersetada pelas escutas da Operação Marquês, e com a qual Sócrates terá sido confrontado durante o interrogatório que antecedeu a sua prisão preventiva, a 24 de novembro.
A construtora de Leiria tem negado repetidamente ter pago qualquer valor a Santos Silva ou a José Sócrates em troca de favores. O grupo admitiu apenas ter pago cerca de 3,2 milhões de euros a várias empresas detidas por Santos Silva por serviços prestados, entre 2005 e 2010.
Todas estas informações poderão ajudar os investigadores a perceber de que forma é que dezenas de obras públicas foram adjudicadas ao grupo durante o Governo de Sócrates. Para além disso, a reconstrução dos circuitos financeiros poderá permitir provar a tese de que o dinheiro de Santos Silva, administrador do grupo Lena, era, na verdade, do ex-primeiro-ministro, diz o i.