Num dia, Liacyr Ribeiro estava no primeiro Congresso Árabe de Cirurgia Plástica em Tripolí a falar sobre aumento mamário. No dia seguinte, estava num carro conduzido pelo ministro da Saúde da Líbia, atravessando caminhos sinuosos e barreiras de segurança estranhas. Quando chegou, estava perante Muammar El Gaddafi. “Tem de me operar”, disse o então líder líbio, que estava no poder desde 1969. A história é relata pelo El País.
Correu tudo bem, até o pagamento. Mas o medo invadiu o cirurgião plástico desde o primeiro dia: “Era o dono daquele país, podiam fazer comigo o que quisessem”, recorda. Admite que ficou impressionado pois “ninguém faz uma revolução com 27 anos”.
Gaddafi queria que a operação acontecesse imediatamente, mas Ribeiro conseguiu convencê-lo a ir primeiro ao Rio de Janeiro para recolher o material de que necessitava. Voltou à Líbia umas semanas depois, acompanhado pela assistente.
O hospital onde se procedeu à cirurgia era um bunker. A sala era das melhor equipadas que Ribeiro conhecia, das muitas em que estivera em várias partes do mundo. Tudo era estrangeiro, desde o material até ao pessoal médico.
A anestesia foi local: Gaddafi temia que ficasse a dormir para sempre. Embora Ribeiro esteja eticamente impedido de revelar o teor da operação que praticou, deixa saber que a missão do ditador era “rejuvenescer”.
A seguir à operação, Ribeiro recebeu uma quantidade de francos suíços que “davam para comprar um carro”. O resultado deve ter agradado a Gaddafi, já que voltaram a chamá-lo pouco antes da sua morte. Mas, dessa vez, o cirurgião de 73 anos negou-se.
Liacyr Ribeiro alerta agora para o número crescente de cirurgiões plásticos: “Alguém ambicioso pode operar narizes demasiado pequenos em caras grandes ou peitos grandes em mulheres pequenas”. E a culpa, diz, está na inflação: “Muita gente olha só para o dinheiro!”, acusa, deixando um alerta. “Os seios, a barriga, lipoaspirações, podem ocultar-se. Mas a cara não e aí há muitos desastres”, explica o médico.
Natural do Brasil, Ribeiro considera que o elevado número de intervenções cirúrgicas no seu país se justifica com a vaidade da mulher brasileira. Mas não só: “Não há secretismos no Brasil, nem pudor em mostrar o corpo. E, além disso, é muito barato”.
Liacyr Ribeiro é também o cirurgião de Sílvio Berlusconi. Mas deste não fala, por ainda estar vivo e no ativo. Deixa apenas escapar que é “um tipo tranquilo”, e que nunca o convidou para qualquer festa.