A agência de notação financeira Moody’s considera que a crescente agitação política e social no Brasil é negativa do ponto de vista da avaliação da qualidade de crédito do país porque dificulta a realização de reformas políticas.

“A crescente agitação social e política é negativa do ponto de vista da qualidade do crédito do Brasil porque deve complicar ainda mais os esforços do Governo para restaurar a confiança dos investimentos e alcançar a consolidação orçamental, dois elementos que consideramos críticos para melhorar a qualidade de crédito do Brasil”, escreve a Moody’s num comentário lançado no seguimento das manifestações que juntaram milhares de pessoas em várias cidades brasileiras na semana passada.

No texto, os analistas de uma das três maiores agências de ‘rating’ do mundo sublinham que, ao contrário das grandes manifestações de 2013 – que se lançaram contra a má qualidade dos serviços públicos e contra a falta de eficácia do Governo -, “as manifestações desta semana foram fomentadas pela classe média e seguem-se à degradação das condições macroeconómicas, bem como um desacordo público na coligação sobre a condução da política económica”.

Para a Moody’s, que classifica o ‘rating’ do país em Baa2, com uma perspetiva de evolução Negativa, ou seja, a um passo do nível de não investimento, conhecido como ‘lixo’, “a degradação das condições macroeconómicas e o avolumar do descontentamento social aumentam a incerteza sobre a evolução do país a curto prazo, acabando por pressionar a confiança dos consumidores e dos empresários, que já de si estão em níveis historicamente baixos”.

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Os indicadores de confiança dos investidores na economia brasileira estão em valores mais baixos que os registados no pico da crise financeira, em 2008 e 2009, o que, conjugado com o efeito negativo do fraco desempenho económico, deve atirar o crescimento económico do Brasil para um valor negativo em 1% este ano, depois de ter estado estagnado no ano passado.

A baixa popularidade da Presidente Dilma Rousseff, com uma taxa de aprovação de apenas 13%, segundo uma sondagem de 17 de março da Datafolha, é também citada no relatório da Moody’s, que dá também ainda de que em outubro este valor estava nos 42%.

Por outro lado, acrescenta-se, a percentagem de eleitores que considera que o Governo está a fazer um mau trabalho mais do que triplicou em seis meses, passando de 20 para 62%.

Estes valores “sem precedentes para um Presidente em exercício devem prejudicar a capacidade do Governo nas negociações com o Congresso sobre um pacote económico que inclua medidas significativas de consolidação orçamental, que vemos como fundamentais para parar as tendências negativas nos indicadores orçamentais e de dívida do Brasil”, conclui a Moody’s.