António Costa questionou este sábado o Governo sobre como é possível que tenha “os cofres cheios”, tal como a ministra das Finanças declarou na passada quinta-feira, e não apoie os idosos e as crianças que vivem em situação de pobreza. Num encontro com militantes e simpatizantes em Barcelos, o líder socialista pôs as palavras de Maria Luís Albuquerque, dizendo que o Governo “descolou da realidade”.
“Temos os cofres cheios? Então temos os cofres cheios e cortamos nos apoios aos idosos? Temos os cofres cheios e estamos a cortar no Rendimento Social de Inserção? Temos os cofres cheios e estamos a retirar o subsídio de desemprego a quem não encontra emprego? Temos os cofres cheios e temos um terço das crianças em risco de pobreza?”, perguntou Costa.
De seguida, questionou: “Mas quem é que tem os cofres cheios? Nós não somos.”
Na quinta-feira, perante uma plateia jovem que instou a “multiplicar-se”, Maria Luís Albuquerque declarou que o país estava preparado para as eventualidades. “Temos cofres cheios para poder dizer tranquilamente que se alguma coisa acontecer à nossa volta que perturbe o funcionamento do mercado, nós podemos estar tranquilamente durante um período prolongado sem precisar de ir ao mercado, satisfazendo todos os nossos compromissos”, disse a ministra.
António Costa, pelo contrário, considera que o país regrediu durante a legislatura da maioria PSD/CDS. “Em quatro anos, andámos muitas décadas para trás”, referiu, acrescentando que “o indicador mais grave” do “retrocesso” registado em Portugal nos últimos quatro anos é “o grande aumento da pobreza”, nomeadamente a pobreza infantil e juvenil, com “31% dos portugueses dos 0 aos 18 anos abaixo do limiar da pobreza”.
E acusou o Governo de ter obrigado os portugueses a optar entre a geração mais antiga e a geração mais nova.
“Numa família, termos de escolher entre a dignidade do futuro dos nossos filhos e a dignidade das nossas mães. Todos nós adoramos os nossos filhos, mas todos nós também adoramos as nossas mães e os nossos pais. Ninguém pode aceitar ter de escolher o futuro de uns em troca do presente dos outros”, disse o líder socialista, que recorreu ao início da primavera para apresentar uma metáfora política.
“Hoje começa a primavera. É um tempo de renascimento, de começar de novo”, disse, antes de referir um carvalho que plantara horas antes. “Sabemos bem que aquele carvalho que foi plantado vai levar muitas décadas a crescer, mas também vai levar muitos séculos da sua existência”. Ora, é isso que Costa quer que aconteça na política portuguesa. “Voltemos a plantar para voltar a crescer”, pediu, acrescentando que a intenção do PS é “voltar a pôr as pessoas no centro da ação política”.
No dia em que se assinala o Dia da Árvore, António Costa foi recebido em Barcelos com bombos, em tom de pré-campanha eleitoral e com uma arruada pela cidade.