Morreu o cineasta português Manoel de Oliveira. Com 106 anos, era o realizador mais velho do mundo, também uma das grandes figuras do cinema mundial. Manoel de Oliveira morreu em casa.
O velório será esta quinta-feira, a partir do final da tarde, na igreja do Cristo Rei, na Foz, Porto. O funeral será na sexta-feira no cemitério de Agramonte, no Porto, depois da realização de uma missa às 15h. Entretanto, o Governo decidiu decretar dois dias de luto nacional, esta quinta e sexta-feira.
O Observador apurou que o presidente da Câmara Municipal do Porto vai declarar três dias de luto municipal, até domingo. Rui Moreira vai fazer uma declaração aos jornalistas às 17h.
Dos realizadores no ativo, Oliveira era o único que tinha assistido à passagem do cinema mudo ao sonoro e do preto e branco à cor. Aliás, o primeiro filme de Manoel de Oliveira foi um mudo.
Manoel de Oliveira nasceu na freguesia de Cedofeita, no Porto. Estudou na Galiza, foi atleta do Sport Club do Porto até ir para uma escola de atores fundada no Porto por Rino Lupo, cineasta italiano. Influenciado por um documentário sobre Berlim, decidiu fazer a sua primeira curta-metragem sobre a faina no Rio Douro: “Douro, Faina Fluvial”, de 1931 – bem recebido lá fora, muito criticado em Portugal.
Ainda tentou fazer ficção, altura em que apareceu “Aniki-Bobó” (1942), mas acabou por interromper a carreira por mais de uma década. Volta com “O Pintor e a Cidade”, em 1956, o seu primeiro filme a cores. Nos anos da ditadura, Oliveira chegou a ser preso pela PIDE, durante dez dias, devido a alguns diálogos inconvenientes no filme “A Caça”.
É a partir de “O Passado e o Presente”, em 1971, que o português lança uma carreira que acaba com enorme dimensão internacional, a partir sobretudo dos anos 90. Muitas vezes marcados pela teatralidade, os seus filmes são várias vezes criticados pela falta de emoção. Os seus defensores lembram o muito sentimento presente em cada cena.
A lista dos seus filmes mais marcantes é grande: “Amor de Perdição”; “Non, ou a Vã Glória de Mandar”; “A Divina Comédia”; “Vale Abraão”; ou “Inquietude”.
A carreira intensa só agora terminou com “O Velho do Restelo”, o seu 47º filme, uma curta-metragem rodada no Porto, que lhe levou tempo a financiar e que disse ser “uma reflexão sobre a Humanidade”.
Oliveira recebeu inúmeros prémios, da Palma de Ouro de Cannes, passando pelo Leão de Ouro de Veneza. Os vários festivais internacionais que premiaram os seus filmes vão a outras geografias, de Tóquio a Munique, passando por Locarno e Berlim. Recebeu também um Globo de Ouro pela sua carreira. O ano passado foi condecorado pelo Presidente francês, François Hollande.
Em 2011, entrevistado pelo DN já com 103 anos, Manoel de Oliveira falou sobre a sua vida, mas também sobre a sua morte: “Não me assusta nada. O sofrimento, sim, a morte não. Quando se morre, solta-se o espírito. O espírito é como o ar que sai. E o espírito sai e junta-se. Ao sair, perde a personalidade, onde está todo o bem e todo o mal, liberta-se desse bem e mal e junta-se ao absoluto, que é a configuração do espírito, o absoluto. É Deus.”