Num só dia, venderam 300 sacas de farinha. Foi assim na mercearia Al-Sadaqa em Sana’a, a capital do Iémen, conforme relata o “Yemen Times”. Nem o preço acima do normal conseguiu demover os clientes, que chegaram a levar consigo vinte sacas, com medo de que estas desapareçam. Antes dos bombardeamentos sauditas, que começaram no dia 25 de março, o preço por cada uma era 23,50 euros. À data do artigo do “Yemen Times”, publicado na segunda-feira (6 de abril), o preço estava em 26,50 euros. A subida de 3 euros pode parecer irrisória, mas não para a realidade deste país. Segundo números do Banco Mundial de 2012, 54,5% da população vivia com menos 1,85€ por dia. Tendo em conta as crescentes dificuldades económicas e sociais do Iémen, é razoável esperar que esse número seja ainda maior hoje.
As coisas já não estavam fáceis neste país. Ao todo, vivem no Iémen 24 milhões de pessoas e 45% destas tem dificuldades de acesso a comida. Um milhão de crianças até aos cinco anos – isto é, cerca de um terço da população dentro desta faixa etária – está subnutrida a um ponto quase fatal. Dois milhões de menores sofrem de subnutrição crónica, num país que importa 90% dos seus bens alimentares.
Mais: apenas 55% dos iemenitas têm acesso a água potável. A inexistência de políticas de regulação da produção agrícola e uma ineficaz gestão dos recursos hídricos – por si só escassos na Península Arábica – podem tornar Sana’a a primeira capital mundial a ficar sem água já em 2025.
Ajuda humanitária tarda a chegar
Enquanto isso, a Cruz Vermelha está num impasse para conseguir fazer chegar medicamentos ao país. Depois de este organismo ter criticado a coligação liderada pelos sauditas por não ser garantida a segurança necessária para que os aviões com ajuda humanitária aterrassem em solo iemenita, ambas as partes terão chegado a um acordo. Em declarações à agência Reuters, uma porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha disse que está prevista chegada de um voo com 16 toneladas com ajuda médica para quarta-feira, dia 8 de abril. No dia seguinte, deve aterrar um segundo avião, desta vez com tendas e geradores. A representante da organização de ajuda humanitária adiantou que não foi fácil arranjar aeronaves para estas missões: “É difícil arranjar companhias que estejam dispostas a voar para uma zona de conflito”.
Desde que a Arábia Saudita começou a fazer bombardeamentos aéreos dirigidos aos rebeldes hutis, que se situam sobretudo no sul do país, já morreram 540 pessoas. Os números são da Organização Mundial da Saúde (OMS), que avança ainda que o conflito fez 1700 feridos. Segundo a UNICEF, já há 100 mil deslocados dentro do Iémen.