O relógio namorava o minuto 62 quando a placa pedia a saída do número 7. Samaris olhou, deu uma corridinha e pelo caminho sorriu, bateu muitas palmas e incentivou o homem que ia entrar. À espera do grego, na linha do meio-campo, estava Fejsa. O sérvio não pisava o relvado do Estádio da Luz desde 23 de março de 2014, o adversário foi o mesmo deste sábado. O terceiro anel aplaudiu o trinco guerreiro, Jorge Jesus idem. Este é um reforço importante para o que falta da temporada. Mas, tão importante quanto o seu regresso, foi o belo golo que marcou. Foi a primeira vez que o fez com a camisola das águias.

Porquê começar este texto com Fejsa? Para ser diferente. É que falar em Jonas já parece perseguição, já cheira a lengalenga sem graça. O Benfica voltou a entrar em campo com a pedalada e qualidade que fizera contra Estoril e Nacional. A consequência disso foi mais uma goleada, desta vez por 5-1, com golos de Jonas (2), Jardel, Lima e Fejsa; Rafael Lopes marcou para a Académica.

BENFICA: Júlio César, Maxi Pereira, Jardel, Luisão, André Almeida, Samaris, Salvio, Pizzi, Gaitán, Limas, Jonas

ACADÉMICA: Cristiano, Ricardo Esgaio, João Real, Ricardo Nascimento, Oualembo, Iago, Fernando Alexandre, Hugo Sêco, Aderlan, Magique, Rafael Lopes

A Académica de José Viterbo, um homem pacato com piada no discurso, não perdia há seis jogos. O treinador dos estudantes falava em ambição antes da partida, com alguma ginga até brincou, perguntando se seria preciso um decreto para vencer na Luz, ou se alguém sairia dali com pulseira eletrónica se tal acontecesse. Não aconteceu. E o próprio, a julgar pelo que aconteceu nos primeiros 20 minutos, não ajudou. Viterbo inovou e apostou numa defesa com três centrais, que formaria uma linha de cinco lá atrás. Esqueceu-se que os homens que vestem de vermelho não param quietos e sabem fugir como ninguém às teias inimigas.

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À passagem dos 20′, o Benfica vencia por 3-0 e Viterbo decidiu mudar a tática. É o pesadelo para qualquer treinador: a aposta dar asneira, sofrer golos cedo e ter de mudar, reconhecendo o fracasso. Já o Benfica voltou a surgir fresco e airoso. Parecia aquela brisa quando o metro chega e faz esquecer o clima abafado que se vive lá nas profundezas dos canais subterrâneos.

Primeiro marcou Jardel (7′), de cabeça, após cruzamento de Pizzi. Aos 12′, foi Jonas, pois claro. A estratégia foi a mesma — de cabeça –, o cruzamento saiu da canhota de André Almeida, que substituiu o castigado Eliseu. Oito minutos depois, Lima sofreu um penálti e assumiu a responsabilidade: 3-0.

A Académica que previa estar bem fechadinha lá atrás, a aguentar a tempestade ofensiva que se adivinhava, estava completamente perdida em campo, sem pernas para correr atrás dos adversários. Estava macia e pouco intensa, mole até (Viterbo admitiu-o no final). A mobilidade dos avançados do Benfica, quando a dupla está bem, é implacável. O meio-campo, com Pizzi e Samaris, está cada vez mais sólido. É curioso mas este Benfica está a crescer. Pelo menos em casa…

Até ao intervalo aconteceram poucas coisas. Samaris chutou uma bomba a 40 metros da baliza, que foi travada pelo peito do guarda-redes da Académica, Cristiano. Já em cima do minuto 45, uma perda de bola de Oualembo quase permitia a chapa 4: Maxi recuperou, Jonas tocou, Gaitán, com um toque espetacular, picou para Maxi, que não conseguiu oferecer a Lima. Era bonito, senhores. Intervalo na Luz. O Benfica foi descendo o ritmo, guardando mais a bola e fazendo os rapazes de preto correr.

Na segunda parte bastaram sete minutos para a dança das redes. Quem foi o herói de serviço? Jonas. O brasileiro já leva cinco bis em 2014/2015. Mais uma vez, a assistência chegou de André Almeida, já dentro da área da Académica. Jonas, com todo o tempo do mundo, até porque ele tem um dom qualquer que o faz parar mesmo, recebeu, olhou e escolheu o lado improvável, fazendo lembrar Deco contra o Mónaco na final da Champions em 2004.

Desta vez houve menos Gaitán, mas houve muito Benfica. Mesmo com 3-0, 4-0 no marcador, os jogadores não desligaram. Abrandaram, sim, mas não desligaram. O meio-campo pressionou sempre, Maxi Pereira andava em todo o lado, André Almeida esteve competente como é hábito, mas juntou-lhe duas assistências. Luisão regressou, e até Jardel já não engana: está feito um senhor central. As combinações, aquela espécie de tiqui-taca da Luz, foram aparecendo e seduziam. Dava gosto, mas era natural que a intensidade baixasse. E baixou.

A Académica reduziria aos 80′, por Rafael Lopes. O cruzamento partiu de Ricardo Esgaio, um jogador emprestado pelo Sporting. O avançado, ao segundo poste, recebeu, em simultâneo enganou um defesa, e chutou bem com o pé esquerdo, 4-1. A reação do jovem português foi emotiva.

Mas a festa dos cerca de 56 mil adeptos na Luz não estava ainda completa. Fejsa, o tal homem que não vestia a camisola vermelha há mais de um ano, regressou com um belo golo. Foi aos 84′, depois de uma ressaca a um cruzamento; o sérvio recebeu, desviou de um defesa e chutou forte com o pé direito, 5-1. Os companheiros, genuínos, rodearam-no e mostravam-se felizes por ele. Um ano sem jogar é um calvário.

Entre mais alguns falhanços (o resultado até podia ter sido mais avolumado), mais do lado do Benfica, que empurrou quase sempre os rivais para o seu meio-campo, o marcador não voltaria a ser mudado. O Benfica matou um borregozito, pois nas últimas duas vezes que jogou contra a Académica na Luz no dia 11 de abril perdeu: 0-3 (2008) e 0-1 (2009). O duelo ficou marcado pelos tais primeiros 20 minutos, que mataram completamente qualquer esperança dos visitantes.

Por curiosidade, resta ainda lembrar que o Benfica não vencia a Académica na Luz por 5-1 desde maio de 1971. Os golos dos homens da casa foram marcados por Eusébio, Nené (2) e Artur Jorge (2). Alguém se lembra?