Termina no final desta semana o prazo de seis dias úteis dado pelos credores para que a Grécia apresente uma lista mais detalhada de reformas, de modo a desbloquear todo ou uma parte da ajuda financeira que está pendente e que daria uma “bolsa de oxigénio” aos cofres públicos do país. Mas as negociações estão a ser “muito complicadas”, em parte porque o governo de Atenas “tem tido alguma retórica que não ajuda em nada”, diz Valdis Dombrovskis, antigo primeiro-ministro da Letónia e atual vice-presidente da Comissão Europeia.
“Não é segredo que estas negociações são muito complicadas e tem havido alguma retórica [do lado grego] que não ajuda em nada”, afirmou Dombrovskis, em entrevista à Bloomberg TV esta segunda-feira. O responsável garante, contudo, que “é claro que do lado das instituições estamos dispostos a trabalhar com o novo governo grego”, condicionando a prestação da mais ajuda financeira aos progressos no impasse que se vive e ao acordo sobre as matérias que continuam a separar a Grécia e os credores.
As declarações de Dombrovskis surgem depois de, no domingo, o jornal alemão Frankfurter Allgemeine (FAS) ter escrito que as propostas gregas continuam a “dececionar” os representantes dos credores. As fontes (não identificadas) citadas pelo jornal iam mais longe e disseram que as instituições consideraram “chocante” a falta de progressos nas propostas apresentadas numa reunião na última quarta-feira. Foi dessa reunião que saiu o ultimato dos credores, que faz com que a Grécia tenha seis dias úteis para apresentar as reformas e cenários macroeconómicos credíveis. Com o feriado de sexta-feira passada, isso significará que o governo de Atenas tem até esta sexta-feira para responder.
O objetivo é preparar os trabalhos da reunião decisiva dos ministros das Finanças do Eurogrupo, no dia 24, em Riga.
Representante grego “comporta-se como um taxista”
O texto do jornal alemão FAS, que citava fontes do lado dos credores, afirmava, também, que o novo representante grego para as negociações, Nikos Theocharakis, se comportou “como um taxista” (numa eventual alusão à personagem de Robert de Niro no filme de Martin Scorcese), sempre a perguntar quando vinha o dinheiro e ameaçando que o país irá cair na bancarrota em breve, segundo a descrição feita pelo jornal.
O Ministério das Finanças, liderado por Yanis Varoufakis, não tardou a rejeitar o teor desta notícia do FAS. “Quando os leitores do FAS lerem as atas da reunião do Euro Working Group [o concílio de representantes gregos e dos credores que estão a negociar as reformas], o jornal vai ter muita dificuldade em justificar o título e o conteúdo do seu artigo”, afirmou Varoufakis, através de comunicado do Ministério citado pelo Ekathimerini, acrescentando que “notícias como esta prejudicam a negociação e a Europa”.
“Não temos nada a perder”, dizem os gregos, segundo o Bild
Há uma outra notícia, desta manhã, não mereceu ainda um desmentido formal por parte de Yanis Varoufakis, mas que está a causar alguma controvérsia. O tablóide alemão Bild escreve esta segunda-feira que um ministro grego disse ao jornal que eleições antecipadas podem ser convocadas caso a Europa não ceda.
“Não temos nada a perder. Se a União Europeia continuar inflexível, temos de mostrar que nos mantemos firmes e que contamos com o apoio do povo grego”, terá afirmado este responsável do governo grego, que o jornal não identifica.
O Bild apresenta, contudo, a reação de um eurodeputado do partido alemão FDP [Freie Demokratische Partei), Alexander Graf Lambsdorff: “Novas eleições poderiam ser, de facto, um referendo ao euro. Se o Syriza fosse reeleito, a saída da Grécia do euro seria uma possibilidade”, disse o eurodeputado do partido de centro-direita.
A perceção de risco em torno da Grécia continua, assim, nos níveis mais gravosos desde 2012, com os escassos títulos de dívida grega a 10 anos que são negociados entre os investidores privados com juros superiores a 11%, o que significa que o mercado de dívida pública está completamente barrado para a Grécia.