A reputação do xadrez como o desporto que entretém as mentes mais brilhantes começa a desmoronar-se. A culpa é dos smartphones. E de quem os usa para fazer batota.

A descoberta de uma fraude, que pelos vistos é mais generalizada do que parece, deu-se em 2007, durante o 17º Torneio Anual de Xadrez no Dubai, localizado nos Emirados Árabes Unidos. Gaioz Nigalidze, um jovem campeão de xadrez georgiano, foi acusado de ter utilizado o seu iPhone para fazer batota na competição. As suspeitas foram confirmadas e Gaioz, de 25 anos, foi expulso do torneio, conta o jornal norte-americano Washington Post.

As suspeitas levantaram-se quando após cada jogada o mestre de xadrez de 25 anos corria para a casa de banho utilizando sempre o mesmo cubículo. Após uma inspeção ao compartimento, a organização do torneio descobriu que o jogador profissional utilizava um iPhone escondido em papel higiénico para planear a sua próxima jogada.

Simples batota num jogo? Não: muito mais que isso. A ascensão de Gaioz nos rankings profissionais de xadrez em 2007 afinal coincidia com o ano em que o iPhone da empresa norte-americana Apple foi lançado no mercado e toda a sua carreira foi posta em causa.

Quando foi confrontado, o jovem jogador negou ser o dono do iPhone encontrado. Então, os oficiais da administração do torneio desbloquearam o smartphone e verificaram que o utilizador que pertencia a Gaioz estava ligado a uma rede social. E descobriram que o jogo a decorrer no torneio estava a ser analisado por uma aplicação de xadrez. As suspeitas de batota transformaram-se em evidência.

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Nigel Short, um mestre de xadrez inglês que já foi considerado o 3º melhor do mundo, alertou que “é incrivelmente fácil de fazer batota com um telefone” e que “qualquer pessoa o consegue fazer”, segundo o Washington Post.

Se antigamente o desempenho de um computador num jogo de xadrez contra um ser humano permitia apenas avaliar o progresso tecnológico, hoje em dia a máquina evoluiu exponencialmente e já não surpreende ninguém quando vence o homem num piscar de olhos. Será que graças ao desenvolvimento tecnológico e à crescente disseminação dos smartphones pelo público, aquele que (ainda) é considerado o desporto dos reis se vai tornar num jogo de batoteiros?

Alguns mestres do desporto, como Nigel Short, admitem que a competição desleal utilizando smartphones está-se a tornar numa prática comum entre os jogadores. Short apela para que a Federação Internacional de Xadrez (FIDE) tome medidas “draconianas” para combater as práticas fraudulentas, considerando que apenas desta forma será possível fazer com que os jogadores “pensem duas vezes” antes de fazer batota.