É comum dizer-se que um jogador está no estaleiro quando uma lesão não o deixa jogar. E o Bayern que na quarta-feira foi perder (3-1) ao Porto deixou um estaleiro cheio em Munique: joelhos, tornozelos e coxas magoadas deixaram Arjen Robben, Frank Ribéry, Javi Martínez, David Alaba, Mehdi Benatia, Bastian Schweinsteiger e Tom Starke na Alemanha, a ver tudo pela televisão. Dois dias depois, o homem que há 37 anos tomava conta do departamento médico do clube diz que se vai embora e demite-se, levando com ele outros três médicos da equipa.
Ao que parece, a derrota no Estádio do Dragão foi a gota de água na relação entre Pep Guardiola e Hans-Wilhelm Müller-Wohlfahrt, médico, de 72 anos, que coordenava o departamento. “Por razões que faltaram explicar, a equipa médica foi culpada pela derrota. A relação de confiança foi afetada permanentemente”, revelou, em comunicado, o responsável que já uma vez saíra do clube por opção própria — aconteceu em 2008, na altura por um alegado desentendimento com Jürgen Klinsmann, então treinador do Bayern.
Depois, quando o alemão saiu do clube, o médico regressou. Se pretender fazer o mesmo neste caso, Müller-Wohlfahrt poderá ter de esperar um pouco. Pep Guardiola sublinhou que esta demissão “não muda nada” e que “continuará a treinar aqui na próxima época”, no fim da qual termina o contrato que o liga ao atual campeão germânico. “Perdemos o jogo [contra o FC Porto] por causa do Pep, é tão simples quanto isso. Quando perdemos a culpa é minha e não de um membro da equipa médica. Ninguém pode garantir que tínhamos vencido caso tivéssemos o onze titular”, explicou o catalão, já esta sexta-feira, em conferência de imprensa.
O treinador recusou, portanto, qualquer desentendimento com Hans-Wihelm, frisando que “respeita” a decisão do médico que chegara ao Bayern de Munique em 1977. Mas há uma polémica que o contradiz e a culpa é de um vídeo, gravado a 8 de abril, durante o Bayer Leverkusen-Bayern de Munique, que mostra Guardiola no banco de suplentes a bater palmas, várias vezes, em direção a alguém que estava sentado (e não aparece nas imagens), alegadamente no momento em que Mehdi Benatia saiu lesionado, aos 34 minutos.
Mas isso foi “apenas” Guardiola a mostrar-se “desiludido”, explicou o treinador, antes de defender que “nada teve a ver com Müller-Wohlfahrt”.
O técnico catalão chegou ao Bayern no verão de 2013 e, durante a primeira época, ficou surpreendido por o clube não dispor de qualquer médico no centro de treinos, já que a clínica de Hans-Wihelm Müller-Wohlfahrt situa-se no centro da cidade de Munique. Segundo o relatado no livro “Herr Pep“, escrito por um jornalista catalão a quem foi permitido acompanhar a temporada 2013/2014 nos bastidores do clube de Guardiola, o departamento médico “desconcertava” o treinador. O caso de Thiago Alcântara, hispano-brasileiro que foi a única contratação que Pep requereu à direção do Bayern quando chegou ao clube, terá sido o que mais desagradou o treinador.
Em março de 2014 o médio lesionou-se no joelho esquerdo e teve que ser submetido a uma intervenção cirúrgica. Ficou meses a recuperar e, quando regressou, em outubro, voltou a sofrer uma lesão no mesmo joelho, três dias após voltar a treinar com a restante equipa. Pep Guardiola, na altura, admitiu ter “cometido um erro” na gestão da recuperação do jogador, por permitir que a lesão fosse tratada com injeções de cortisona — método que o departamento médico de Müller-Wohlfahrt o desaconselhara a autorizar.
Thiago acabaria por recuperar dessa segunda lesão há menos de um mês. Voltou às convocatórias a 22 de março, na terceira derrota do Bayern esta época (derrota por 2-0, em casa, frente ao Borussia Mönchengladbach), embora não tenha jogado, e foi titular, depois, no quarto jogo em que os bávaros perderam esta temporada, no Estádio do Dragão, onde foram superados (3-1) pelo FC Porto na primeira mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões.