Para já são apenas previsões. E neste jogo de antevisão há quem arrisque uma subida do preço da sardinha, por haver uma redução deste peixe na lota este ano, e quem antecipe, por outro lado, preços mais baixos do que no ano passado, por causa da sardinha espanhola.
As organizações algarvias de produtores – Barlapescas e Olhãopesca – já vieram dizer que o preço da sardinha pode disparar este verão, devido às restrições impostas para a captura deste peixe em 2015. “No ano passado houve sardinhas a 10 euros em lota, se calhar vou vender sardinha a 15, 20 ou 25 euros, até tenho medo de lançar um número para o ar… Se calhar deixa de haver sardinhas para os Santos Populares”, alertou Mário Galhardo, presidente da Barlapescas ao Sul Informação.
Este último cenário, mais radical, já foi afastado pelo secretário de Estado do Mar, Manuel Pinto de Abreu. “Vamos ter Santos com sardinha portuguesa”, garantiu o governante, citado pelo Expresso, que admitiu contudo que “provavelmente a sardinha vai estar mais cara”.
Opinião diferente tem Carlos Macedo, diretor da Organização de Produtores Artesanal Pesca, mas que fala em nome das Organizações de Produtores ArtesanalPesca, Barlapescas, Olhãopesca e Sesibal. Ao Observador, Carlos Macedo disse que “é provável que o preço não esteja, este ano, tão alto como tem estado nos últimos anos”, justificando a sua previsão com o aumento da quota pesqueira em Espanha.
“Como os espanhóis vão ter possibilidade de pesca maior é muito provável que entre mais sardinha espanhola em Portugal e que por isso mesmo seja mais barata”, explicou Carlos Macedo.
A quota da sardinha é gerida pelos dois países ibéricos – Portugal e Espanha – embora o stock ibérico seja recomendado por um órgão científico da Comissão Europeia, com base na informação recebida pelos estados-membros sobre a quantidade de sardinha no mar.
Assunção Cristas assume divergências com Espanha sobre divisão da sardinha
Para este ano, ficou definida uma quota ibérica de pesca de sardinha de pouco mais de 19.000 toneladas. A divisão da quota entre os dois países ibéricos tem sido tradicionalmente, com base num acordo informal, de 70% para Portugal e 30% para Espanha, o que daria cerca de 13.500 toneladas este ano para Portugal e 6.000 para Espanha.
No que diz respeito a Portugal, estes valores correspondem a cerca de um quarto da quota atribuída em 2011 (58 mil toneladas), a menos de metade das capturas feitas em 2012 (31 mil) e a menos 10% do que o que foi pescado no ano passado. No que toca a Espanha, que no ano passado pescou 8.ooo toneladas, este valor também representaria uma quebra, mas o governo vizinho já mostrou que não irá cumprir com o acordo informal que estabelece uma divisão de 70%/ 30% e já autorizou a pesca de 1.000 toneladas por mês até ao fim do ano, o que dará mais de 10 mil toneladas.
Este “incumprimento” por parte do país vizinho está a incomodar os produtores portugueses e a ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, já assumiu as divergências que tem tido com Espanha a propósito da divisão das quotas da sardinha, sendo que um novo encontro bilateral está agendado para esta quarta-feira, 22 de abril.
“É um tema que tem sido objeto de muitas conversas políticas e técnicas, mas em que Portugal e Espanha não partilham o mesmo ponto de vista. Nós entendemos que se deve aplicar o histórico dos anos mais recentes”, defendeu a ministra, durante uma viagem a bordo do navio do Instituto Português do Mar e da Atmosfera – “Noruega” – que está a preparar uma nova campanha científica para avaliar o stock da sardinha de forma a definir a quota para os meses a seguir a maio. Entre março e maio a quota para Portugal já está definida: 4.000 toneladas.
“A nossa posição é que os 70/30 é uma boa repartição e achamos que temos base para sustentar essa posição”, vincou a responsável da pasta do Mar.
Os produtores da sardinha reclamam que esta questão fique esclarecida, ao mesmo tempo que discordam das quotas estabelecidas para a pesca da sardinha este ano. Carlos Macedo afirmou ao Observador que “os pescadores não têm grande confiança nos dados do IPMA” sobre a sardinha que há no mar. “Não está assim tão mau. Acontece que o Noruega está velho e com problemas nos equipamentos, além de que funciona com horário de escritório e a sardinha deixa-se ver sobretudo ao nascer e ao pôr-do-sol”, explicou.
Outra das queixas que as organizações de produtores a sul de Peniche já levaram ao Governo e ao Parlamento tem que ver com a divisão que este ano foi feita este ano em termos de quota a pescar pelas diferentes embarcações do sul e do norte, com “privilégio para as embarcações do norte, que têm quotas de pesca superiores, quando a quebra da sardinha tem sido maior no norte do que no sul”, apontou Carlos Macedo.