O secretário-geral do PS, António Costa, foi na noite de quarta-feira confrontado com dúvidas sobre a descida da taxa social única (TSU) e das alterações à legislação laboral presentes no cenário macroeconómico, mas considerou urgente a adoção dessas medidas.
Durante a reunião da Comissão Política do PS, elementos ligados à UGT, caso de José Abrão, e aos pensionistas, como Maria do Rosário Gama, líder da Associação Portuguesa dos Reformados (APRE), manifestaram dúvidas sobre pontos do cenário macroeconómico socialista, designadamente em matérias como a Segurança Social e a legislação laboral.
Maria do Rosário Gama mostrou-se apreensiva em relação à redução progressiva (embora temporária) de quatro pontos percentuais da TSU, aplicável quer a empregadores, quer a trabalhadores, temendo que essa medida possa colocar em causa a sustentabilidade do sistema público.
Já José Abrão, na linha das mais recentes intervenções do secretário-geral da UGT, Carlos Silva, afirmou recear que medidas como a via conciliatória para a cessação de contratos de trabalho possa facilitar às empresas os despedimentos.
De acordo com membros da Comissão Política do PS contactados pela agência Lusa, António Costa respondeu com algum grau de detalhe a essas dúvidas, começando por frisar que as medidas constantes no cenário macroeconómico devem ser analisadas em conjunto e não de forma isolada em termos de impacto.
António Costa defendeu, então, que a medida relativa à redução gradual mas temporária da TSU é essencial para estimular o crescimento económico, salientando também o seu caráter universal, ao contrário de medidas como a reposição salarial para os trabalhadores do setor público.
No ponto da legislação laboral, António Costa considerou urgente inverter a atual situação do mercado de trabalho em Portugal, classificando-o como “estilhaçado”, com níveis de precariedade “elevadíssimos”, o que em parte justificará também a dimensão do fenómeno da emigração de jovens quadros.
Durante a reunião da Comissão Política Nacional do PS, a eurodeputada socialista Ana Gomes sugeriu a possibilidade de se optar por uma descida do IRS em vez da redução da TSU.
Do ponto de vista de política interna, o secretário-geral do PS recebeu um apoio que surpreendeu vários membros da Comissão Política, quando o ex-presidente da Câmara de Lisboa e deputado socialista João Soares lhe disse: “Estou à tua disposição para a luta que aí vem”.
Elogios à atuação da direção doe António Costa, quer pelo cenário macroeconómico apresentado na terça-feira, quer pelo programa do aniversário do PS no passado domingo, partiram também de Álvaro Beleza, que fez parte do Secretariado Nacional liderado por António José Seguro.
Álvaro Beleza defendeu depois que, para além da economia e das finanças, a saúde deve ter uma presença forte no futuro programa eleitoral do PS e, por outro lado, que se deve apoiar as empresas exportadoras, não centrando apenas os objetivos de crescimento no plano do aumento da procura interna.
Numa nota em contramão com a atual direção do PS, Beleza mostrou-se igualmente favorável a uma descida do IRC.